Eu juro que pensava
que as coisas estavam mais ou menos resolvidas na minha relação com a DC Comics, a editora norte-americana
dona do Super-Homem, Batman e
Mulher-Maravilha. Até já tinha feito uma longa diatribe expressando
profundo pesar e inquietação, daquelas que interessam apenas aos que dedicam
preciosa mas microscópica atenção a estes universos (leiam-na aqui). Mas como
com todas as relações que no passado foram excelentes, também esta tem o dom
de, na sequência de uma qualquer novidade, conseguir reacender o sentimento que
se julgava controlado. Ainda que não esteja reconquistado, apareceu aquela luz
ao fundo do túnel e, esticando a metáfora, quando se tem visão de túnel muito
do que nos acontece à volta parece-nos acessório, dispensável. Isto acontece quando
só queremos reparar no que de bom uma antiga relação nos dava e, aparentemente,
promete voltar a dar.
A DC foi a minha editora favorita durante
25 anos, desde mais ou menos a segunda metade da década de 80. Recentemente,
não por causa do facto de ter reiniciado do zero o seu universo de super-heróis
mas porque, pura e simplesmente, tenho considerado as histórias de qualidade
geralmente sofrível, afastei-me da editora e concentrei a minha atenção BDfila
mensal na Marvel (sim porque existe a
mensal e a outra, mais calma, menos telenovelesca, a que lê uma história
completa e sem complicações).
Sempre gostei da
“pureza” do super-herói típico da DC, a frontalidade com que assumia o caracter
verdadeiramente preto e branco do arquétipo, colocando deste lado o Bem e
daquele lado o Mal (não quero com isto dizer que a DC só tinha disto nem que
desprezo a Marvel, muito pelo
contrário). Se calhar por algum resquício de infantilidade, o Super-Homem e a Mulher-Maravilha, corporizações perfeitas do que acabo de referir, exerciam
em mim profunda atração, principalmente quando os via contra inimigos que
representavam, de forma também “pura”, o outro lado da moeda, como por exemplo
um Darkseid (quem não sabe de quem se
trata, informe-se aqui).
Por outro lado,
quando comecei a acompanhar de forma mais regular as aventuras do Universo da
DC, ou seja no pós-Crise nas Terras Infinitas (ainda não leram? Como é possível?), fui também conhecendo aquele
vago e misterioso multiverso que existia antes desta Crise, onde pululavam
diferentes versões do Super-Homem, do
Batman e da Mulher-Maravilha, as da Terra-1, Terra-2, da Terra invertida onde
eles eram vilões, etc. A DC, como qualquer empresa que gosta de atiçar a
curiosidade dos seus leitores, ia dando, aqui e acolá, indícios de que esse
dito multiverso estava para voltar, estava mesmo ali ao virar da esquina. Criaram
o híper-tempo (quem se lembra?), as sagas Elseworlds
(o que é isto? Leiam aqui), o livro Terra
2 de Grant Morrison e Frank Quietly (saiu pela Levoir, leiam sobre ele aqui), até que
se chegou à Crise Infinita (pois,
outra) e à minissérie 52, onde o referido multiverso voltava em força, ou
melhor, 52 versões do universo. Ainda assim, não estava assumidamente igual,
porque os diferentes universos não tinham a relevância e o papel que assumiram
na DC pré-Crise.
Em 2011, a editora
volta a fazer algo que já tinha feito várias vezes no passado: reiniciar tudo
do zero, dando-lhe o nome de “Novos 52”. Apareceram novas versões de todos os
personagens favoritos (e alguns menos favoritos) e, paulatinamente, reintroduzem
o Multiverso à Mitologia.
O ano de 2013
assume-se, com coragem, como um marco deste regresso (para quem não lê a atual
versão da Liga da Justiça e os títulos Forever Evil e Earth
2, a partir de agora há
grandes spoilers). E, claro, o Super-Homem,
a Mulher-Maravilha e o Batman estão na frente de batalha deste
retorno. Aqui vou referir apenas o Homem
de Aço.
Numa história que aliou
diferentes versões da Liga da Justiça
(a original, a Sombria e a da América) e à qual se apelidou de “Guerra da Trindade”, assiste-te ao
regresso das versões maléficas da mesma Liga
mas oriundas de um universo inverso ao nosso, aquele também existente no
pré-Crise. A antítese do Super-Homem
é o Ultra-Homem, o seu inverso em
todos os sentidos, verdadeiramente maléfico, sem um pingo ou resquício de
bondade, as antípodas do zénite de altruísmo que é Kal-El, o nosso anjo alienígena. Assim, apenas com um golpe, a DC assumia que o multiverso estava de
volta e na forma de um dos seus mais interessantes conceitos, o da Terra Oposta,
reconhecendo influências não só ao que havia sido feito no pré-Crise como
também ao já referido trabalho de Grant
Morrison no livro Terra-2.
Num outro livro mensal
chamado Earth 2, passado numa terra
análoga, quando se pensava que a sua versão do Super-Homem tinha perecido em batalha junto com o Batman e Mulher-Maravilha deste universo paralelo, eis que ele ressurge,
tornado também ele maléfico, mas desta feita pelas mãos de um mal primordial de
que já aqui vos falei, Darkseid.
O “Novos 52” ainda mal
começou e já existem três versões do Super-Homem,
sendo que parece que o Mal vence o Bem por 2 bolas a 1. Isto se descontarmos as
que aparecem na revista Batman/Superman
e na futura Justice League 3000
(passada no seculo XXX). Apesar de estar (com alguma coragem, diga-se) a
reinventar os seus personagens, alguns com maior sucesso e qualidade que
outros, a DC vai buscar ao seu profícuo passado as bases para construir o
futuro. E eu, que já tinha assumido que a minha DC tinha desaparecido, começo a
ver, de facto, a luz ao fundo do túnel. Pode ser que a esperança se concretize
- ou não - e em futuros posts vos
diga o que vai na minha alma no que respeita a estes assuntos, tão relevantes
para uns e completamente desconhecidos para a maior parte dos que são os
outros.
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