Colecção DC Levoir/Público – 10.º Volume: Lanterna Verde e Arqueiro Verde

(Prometo tentar informar aos menos conhecedores de BD acerca da acessibilidade desta coleção, ou seja se é fácil ou não ler sem saber muito mais coisas)
Grau de acessibilidade: Fácil
 
Sai amanhã, Quinta-feira, dia 12 de Setembro, junto com Público e custa 8,9€
 
A DC Comics, durante a maior parte da década de 60, publicava histórias que pouco estimulavam um público maduro e mesmo adolescente. Eram geralmente bastante infantis, quer na temática, quer no estilo narrativo, e este era um modelo com o qual estavam particularmente confortáveis. Contudo, a Marvel, com os seus Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Vingadores e X-Men, controlava o mercado com personagens, conceitos e enredos sofisticados, dinâmicos e mais em acordo com o zeitgeist. Mas dois putos acharam por bem fazer as coisas de modo diferente: Denni O’Neil e Neal Adams.
Estes dois senhores, o primeiro escritor e o segundo desenhista, com a entrada na década de 70, já haviam começado a impor o seu estilo num dos maiores ícones da BD americana, o Batman (de cujo trabalho viu-se alguns exemplos no volume da semana passada), a quem devolveram as respectivas roupagens góticas e austeras, a um dos personagens que mais se havia desviado da matriz, ao incorrer pela infantilidade e pelo kitsh. Meses mais tarde, num título à beira do cancelamento, o do Lanterna Verde, os editores decidiram dar rédea solta à criatividade e entregaram o título e o personagem às mãos de O’Neil e Adams o que, veio a provar-se, revelou-se providencial.
O Lanterna Verde era um personagem de matriz cósmica, habituado a navegar por entre galáxias e a enfrentar Sóis Tiranos Conscientes com a ajuda de, como Grant Morrison o viria a chamar muito mais tarde, uma máquina de desejos, o anel verde que lhe permitia dar forma a todos os seus pensamentos (além de voar, traduzir idiomas desconhecidos, proteção dos rigores de espaço, etc, etc, etc). Ora, esta roupagem estava longe dos propósitos dos dois autores, filhos de uma década de 60 revolucionária e contestatária, emersa na Guerra do Vietnam e no rescaldo de graves conflitos sociais que culminaram na morte de ícones humanitários (e um Presidente). Eles não queriam a aventura cósmica, queriam a relevância social e, para isso, decidiram que, como companheiro do super-herói tipicamente preocupado com o vilão do dia, iriam também ter um ativista social com ideologias liberais de esquerda e, para o efeito, escolheram o personagem Arqueiro Verde (quem mais iam escolher a não ser o arquetípico Robin dos Bosques?). Nascia a parceria, de criadores e de personagens, que viria a tornar-se num marco na História da BD norte-americana.
Os temas de relevância social e a sua abordagem romperam com o paradigma da “BD é só para crianças” e iniciaram o lento caminho da Arte para a relevância estética e conceptual que culminaria no trabalho de autores como Alan Moore e Neil Gaiman na década de 80, também através da DC. Um dos números mais conhecidos é o “número da droga”, em que um dos personagens se envolve com o consumo da substância. A existência de problemas na abordagem deste tema parece, nos dias de hoje, naif mas, como já se aperceberam, no contexto da BD nesta altura, era tudo menos pacífico. Este argumento levou a que, pela segunda vez na história dos comics (o primeiro foi um conjunto de revistas do Homem-Aranha), existisse nas tabacarias uma BD sem o selo de aprovação do Comics Code Authority  - uma espécie de zelador da moral e bons costumes, na realidade uma censura branda.
E o resto, meus amigos, é História(s).
Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.

3 comentários:

Nuno Amado disse...

Este é um dos que eu estou à espera, visto que nunca li muito desta fase de modo continuado!
:)
E de facto... é um marco na história dos comics! Na Europa já se fazia muita BD para adultos, os americanos é que continuavam na fase infantil até esta data!
:P

SAM disse...

Os europeus estão sempre à frente, como é certo e sabido. LOL

Tb nunca li estas histórias e estou com alguma curiosidade. Vamos ver se elas envelheceram bem.

Nuno Amado disse...

SAM, neste momento são um pouco "naive". Mas na altura foram uma grande pedrada no charco. Abriram terreno a outras histórias mais adultas e retiraram poder ao "Comics Code". Uma edição Histórica!
;)