"Antígona" de Sófocles

Antígona vive no meio de um mito trágico familiar levado ao extremo. Filha de uma relação incestuosa involuntária entre Édipo e sua mãe Jocasta, vê dois irmãos matarem-se numa luta de poder por Tebas, na qual um deles toma partido numa conspiração contra a cidade. Creonte, tio destes, torna-se tirano de Tebas e delibera não dar sepultura ao que se insurgiu. Antígona desrespeita a ordem e sepulta o irmão, dando mostras de uma coragem, razão e determinação fora do comum, tendo em conta a pena prevista no caso de desobediência ao tirano: a morte.



Creonte
E a cidade é que vai prescrever-me o que devo ordenar?

Hémon
Vês? Falas como se fosses uma criança.

Creonte
É portanto a outro, e não a mim, que compete governar este país?

Hémon
Não há Estado algum que seja pertença de um só homem.

Creonte
Acaso não se deve entender que o Estado é de quem manda?

Hémon
Mandarias muito bem sozinho numa terra que fosse deserta.

in Antígona (vv. 734-739)


Antígona
Não foi um escravo que morreu; foi um irmão.

Creonte
... Que ia assaltar esta terra; o outro tomou armas por ela.

Antígona
Hades deseja, contudo, que o ritual seja o mesmo.

Creonte
Mas ao honesto não compete o mesmo que ao malvado.

Antígona
Quem sabe se debaixo da terra isso não é exacto.

Creonte
O inimigo jamais se tornará amigo, nem mesmo depois de morto.

Antígona
Não nasci para odiar mas sim para amar.

in Antígona (vv.517-523)

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