#ReleaseTheSnyderCut


Assumo-o. Sou dos que adoraram o Man of Steel e o Batman v Superman do Zack Snyder. Não acreditam? Leiam aqui, aqui e aqui. O BvS foi, se dúvidas restam quanto ao meu gosto, o meu filme favorito de 2016. Porquê este post então? Tudo tem a ver com o filme Justice League do mesmo realizador e do mítico Snyder Cut, do qual se debate a sua existência ou não, e, se existente, o nível de completo em que se encontra. 

Os filmes Man of Steel e Batman v Superman de Zack Snyder foram relativos relativos sucessos de bilheteira. O primeiro fez pouco mais de 600 milhões de dólares e o segundo pouco mais de 800 milhões (no mundo inteiro) - talvez abaixo do expectável, tendo em consideração a força e reconhecimento das personagens. Ainda assim, BvS é a sequela de Man of Steel e a Liga da Justiça a sequela de BvS.  Ora, a questão reside exactamente neste último. 

A reacção a MoS e BvS e, especialmente, a este último, quer por parte da crítica profissional, quer de algum público mais vocal (leia-se, na internet), foi a suficiente para colocar medo na alma dos produtores. Snyder acabaria por ser afastado da Liga (alegando problemas familiares graves), e substituído por Joss Whedon, realizador dos dois primeiros filmes dos Vingadores da Marvel. A Warner Bros., com receio que tivessem em mãos mais um produto tóxico que seria cilindrado negativamente , decidiram-se por um caminho mais próximo do da sua eterna rival, a Marvel. A Liga seria mais leve, com mais piadas, menos negra. Assim aconteceu. Até este que vos escreve, para quem as personagens da DC são as suas favoritas na BD, ficou momentaneamente deslumbrado (um ano, talvez) e, ainda que não tenha gostado tanto quanto MoS ou BvS, apreciei na mesma. Acontece que, nesse ano que passou, já sem o olhar eu-quero-mesmo-que-isto-seja-bom, voltei a ver o filme e, desta vez, só consegui reconhecer os defeitos (e eram muitos). Não falo apenas do infame bigode de Henry Cavill, e esse dito bigode é francamente mau - foram feitas re-filmagens em que apagaram (mal) a "presença capilar" que o actor tinha no filme Missão Impossível. Falo de história, enredo, diálogos, cinematografia. Claro que nem tudo é negativo, mas um filme da maior equipa de super-heróis do universo da BD não deve ser mediano, quer em qualidade (que, sim, é sempre relativo), quer em escala. Um filme da Liga deve definir a palavra épico. 

Mas estou a desviar-me.

Logo após o lançamento do filme da Liga de Whedon, começaram a correr rumores que a versão que acabamos por ver no cinema não estava, nem de longe nem de perto, parecida com a de Snyder (ainda que o nome deste último estivesse nos créditos). Isto não é novidade em filmes produzidos em Hollywood, mais ainda em filmes desta dimensão financeira. É restrito o grupo de realizadores que têm o desejado final cut. Vejam outros "infames" exemplos, o do Blade Runner de Ridley Scott, cuja versão de realizador só a conhecemos vários anos depois, ou a extensão completa do Apocalypse Now de Francis Ford Coppola, que cria dois filmes completamente diferentes (confirmem no Blu-ray que contém essas duas versões). Não estou aqui a dizer que Snyder está ao mesmo nível que estes dois realizadores, nem é essa a minha intenção. Ainda que o meu gosto incline-se para apreciar o Man of Steel e o BvS tanto quanto os dois acima referidos, tenho plena consciência do lugar histórico de cada e da sua importância para o Cinema. Tudo para vos dizer que, sim, começou a  correr o rumor de um cut diferente, um feito por Snyder. Nada disto seria relevante se, primeiro, o filme de Whedon fosse bom, e, mais importante, tivesse sido um sucesso de bilheteira. O que não foi. Bem pelo contrário. Teve um resultado de bilheteira pior que MoS, BvS, Mulher-Maravilha, Suicide Squad, etc. Um flop

Os fãs que não gostaram da capitulação dos produtores à negatividade direccionada a Snyder e à sua visão imediatamente passaram ao ataque. Visto agora essa pele. Independentemente do que possam achar ou não de Snyder, o mesmo tem uma visão artística, uma assinatura autoral. Pode ser negra, ridícula, prepotente. Mas outros (como eu) não somam a ele estes adjectivos. Preferem outros. Ver a Liga, que é uma continuação de MoS e BvS, reduzida a um produto banal, pueril e descompassado, é, tendo em consideração tudo o que escrevi acima, um desperdício. E, para bater ainda mais no ceguinho, foi um flop financeiro. 

Tínhamos de viver com isso, porque, aparentemente, a versão de Snyder estava inacabada: sem banda sonora; efeitos visuais incompletos; partes da narrativa por filmar; etc. Acontece que pode não ser assim, tomando por verdadeiros vários testemunhos, quer de actores (Jason Mamoa), quer de criativos, quer do próprio Zack Snyder, que tem presenteado os fãs, na sua conta de Vero, com importantes pedaços do que, afinal, existe da sua versão. Whedon reescreveu 80 páginas do guião, mudou enredo, eliminou personagens, em suma, construiu um filme completamente diferente (e adicionou as famigeradas piadas que pareciam ser a única fórmula que interessa aos super-heróis). Nada de mal com isso, é uma prerrogativa da Warner, detentora do dinheiro e das personagens. Mas os fãs como eu, misturam (claro) amor e emoção a frios critérios financeiros e desejam, ardentemente, que a versão que acham ser a que interessa seja lançada (em Blu-ray, em DVD, na HBO Max, onde for). E esperançam que os rumores de que, afinal, o Snyder Cut está mais completo do que se advoga, sejam verdadeiros. E apelam (eu, civilizadamente) para que saia, para nele gastar dinheiro (óbvio).

Existe também a dimensão do estilo de filme que MoS e BvS representavam. A atmosfera e enredo enveredavam por um prisma mais negro. Menos aventura carnavalesca, mais reflexivo, não esquecendo as obrigatórias batalhas de super-heróis (MoS tem, no que a mim diz respeito, as melhores, até o momento), mas envoltas em algo que não se dedica apenas ao lado escapista (não que haja algo de mal com escapismo, apenas não tem de ser a única resposta). Os filmes do universo DC de Snyder cortejavam de perto o selo de Maiores de 18 e, postulavam-no à altura, foi também por causa disso que falharam (ou foram muito criticados). Um filme como o Joker de Todd Philips vem reforçar que, afinal, a única resposta cinematográfica às personagens de comics não tem de ser a divertida e leve da Disney/Marvel (e, sim, sei que o trabalho de Snyder e de Phillips é completamente diferente em conteúdo).

Dito isto...existem coisas muito mais importantes que isto. Sim. Todas. Ainda assim, apelo: #ReleaseTheSnyderCut.

Antes de acabar queria apenas vos referir o artigo Mark Hughes publicado antes de ontem na Forbes (encontrem-no aqui), em que ele argumenta de forma bem mais eloquente que eu o porquê da existência do Snyder Cut e de porque deve ser lançado.

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