Battle Angel Alita de Robert Rodriguez

Battle Angel Alita, Gunnm no original japonês, é um dos meus mangás favoritos. O primeiro contacto com estes livros aconteceu há duas décadas e meia, em volumes publicados pela editora francesa Glénat. Recentemente, em modo de preparação para este filme, reli o primeiro grande arco de história da epopeia de Alita. A qualidade permaneceu inalterada e provou-me que Yukito Kishiro, o autor, tinha em mãos uma obra intemporal (leiam aqui o que achei desta releitura). 

E o que dizer do filme?


Um dos aspectos mais importantes do mangá era a sua relevância enquanto cautionary tale, uma análise das implicações sociais da tecnologia. Não só a que era o centro da história, a relativa aos ciborgues, à "melhoria" do corpo humano por meio de implantações mecânicas e cibernéticas, mas, e principalmente, as consequências do que significava o distanciamento em relação à nossa matriz natural. Mais ainda, questionava o que significava o Eu humano, o que nos fazia ser indivíduos pensantes e únicos, numa abordagem filosófica leve e pop. Robert Rodriguez afasta-se dessa matriz, preferindo o puro entretimento e o grande espectáculo. Funciona, porque o mangá isso o permite, mas fica sempre, para quem leu o original, um gosto agridoce do que poderia ter sido. Gunnm é um dos momentos mais originais da BD cyberpunk, tendo sido a matriz para outros filmes e livros que se lhe seguiram. Apesar de posterior ao Terminator original de James Cameron, o Alita de Kishiro esforçava-se por reflexões mais perto de padrões estabelecidos por gigantes do cinema como Ridley Scott, ou da literatura como a de Isacc Asimov. O filme de Rodriguez não inflecte por esse caminho.

Ainda assim, tem a virtude de ser entretenimento sem desculpas, sem ambições filosóficas, o que também funciona. Um dos melhores aspectos deste filme é o facto de a actriz Rosa Salazar ser transformada, tecnologicamente, no desenho ao estilo mangá de Alita, com os olhos grandes que tanto caracterizam a BD nipónica. Os artistas conseguem também transmitir o misto de inocência e violência desmedida que era característica da personagem. Sim, ela é um anjo, mas de combate e terrivelmente eficiente - ainda que o filme se afaste do lado mais sanguinário do mangá, não deixa de tentar as fronteiras do aceitável para um filme para maiores de 13 anos. Por outro lado, as possibilidades tecnológicas do cinema são, uma vez mais, levadas ao extremo, aproveitando-se o realizador de muitas das hipóteses disponíveis. Os cenários são sumptuosos e a acção vertiginosa. Se nos permitem um conselho, gastem um pouco mais e vejam este filme em IMAX e/ou em 3D.

Ainda que seja uma adaptação mais ou menos livre da narrativa e ainda que não mergulhe nas profundidades filosóficas do mangá, o filme Battle Angel Alita é duas horas de entretenimento muito bem passadas. A ver por todos.

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