Rapidinhas de BD - Vertigo is Dead, Long Live Vertigo



O título não é exagero. O famoso selo da editora norte-americana de BD, a DC Comics, está moribundo. Desde o seu início, no princípio da década de 90,  que a Vertigo não tinha tão poucos livros a serem lançados. Esta foi a casa fundada pela famosa Karen Berger, a lendária editora de BD, a mulher que deu-nos o Alan Moore dos EUA, o Sandman de Neil Gaiman, o Preacher de Garth Ennis e Steve Dillon, o 100 Bullets de Brian Azzarello e Eduardo Risso. São inúmeros os legados deixados por Berger e pela casa que fundou. A História da BD dos EUA e do mundo passa pelos seus corredores e pelo seu catálogo.

Legado também é a palavra correcta para falar destes dois títulos: um é já um antigo amigo, American Vampire de Scott Snyder com Rafael Albuquerque (no seu sétimo volume); outro uma adição, mas com uma equipa já conhecida, o Moonshine de Brian Azzarello e Eduardo Risso. Ambos bebem de um mesmo lugar, da marca de inspiração Vertigo/Berge. Existe a apetência para o terror adulto, negro e deprimido e, nestes dois casos, com inclinação sobrenatural. Poderia ser o horror do serial killer, poderia ser o fantástico pós-modernista. Contudo, os autores ingressam no puro e mais primordial dos horrores, recorrendo a monstros do fabulário e imaginário europeu/ocidental. São duas obras com vampiros e lobisomens, mas arquitectadas por autores que têm algo de novo a dizer acerca destes arquétipos muito conhecidos.

American Vampire é exactamente sobre o que título sugere. Skinner e Pearl são dois vampiros dos EUA, com características bem diferentes dos originais das terras europeias. Ao longo dos seis volumes anteriores assistimos ao seu nascimento e à sua luta para sobreviver, desde o faoreste do século XIX até aos fabulosos anos 20. Os conflitos são contra a sua própria natureza, contra vampiros de outras raças e contra a Humanidade. Neste sétimo volume o confronto é de natureza bíblica. Estamos na década de 60 e um mal primordial ressurge e persegue, indiscriminadamente, a raça de sugadores de sangue. Pode parecer banal mas, uma vez mais e como sempre, é o dedo dos autores que carrega aquilo que é normal e já visto para o reino do entretenimento de qualidade. O conceito deste livro (publicado pela DC e pela Vertigo) é da autoria do conhecido escritor de terror, Stephen King, mas cabe a Snyder a tarefa de levar a bom porto o conceito. E consegue fazê-lo de forma exemplar, demonstrando que, apesar de ter sido esta uma das primeiras obras que o tornou conhecido, continua a entretê-lo e a entreter-nos.

Moonshine vem com a marca de uma das novas Vertigos, a Image, que tem recebido em sua casa autores de várias editoras, para produzir, livremente e detendo os seus direitos, obras de temática diferente. O regresso da parceria Azzarello/Risso a uma obra mais longa era esperado desde a altura do seu essencial 100 Bullets. Voltam atrás no tempo para o final da década de 20 dos EUA, na altura da depressão e da lei seca, onde criminosos e personalidades menos solarengas pareciam multiplicar-se na ficção. Em suma, o casamento perfeito com as sensibilidades de ambos os autores, noir do átomo do cabelo (cheio de brilhantina) à molécula da unha (negra e ressequida) do pé. Existem produtores de whiskey (ou bourbon) clandestinos, homens com passado, mulheres fatais, hillbilly's sanguinários, gangsters violentos... e lobisomens. Que mais pode pedir-se a Azzarello e Risso? Nada excepto: muito bem-vindos de volta. 

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