As (minhas) melhores histórias do Wolverine!

Escolher as melhores histórias de Wolverine é uma tarefa, para mim, ao mesmo tempo complicada e fácil. Primeiro porque existe um número bastante considerável de livros publicados com Logan como personagem principal ou secundário e, ficam avisados, não li nem um átomo dos disponíveis. Segundo, as histórias estendem-se por longos períodos de tempo, com conexões e cruzamentos entre elas, fazendo bom uso da serialização que funciona como vantagem e, ao mesmo tempo, detrimento da mitologia dos super-heróis. É difícil isolar um momento no tempo com um claro princípio, meio e fim. Ainda assim, e com este personagem, a tarefa não é insuperável.

Ao longo dos seus primeiros 30 anos de vida, uma das características mais interessantes de Wolverine residiu no mistério em que o seu passado estava envolto. Proliferavam os enigmas e as contradições, pessoas e eventos eram revelados a conta gotas e de forma críptica, pintando um puzzle desconexo (porque, vamos ser honestos, sem plano)  mas cativante. Parte da “mística” do personagem residia em acompanhar esta lenta descoberta. Por isso tento apresentar os contos que mais gosto de forma a melhor aproveitar essa particularidade, ou seja, não na cronologia de vida da personagem mas na forma como esse mistério foi apresentado aos leitores.

A Saga da Fênix Negra e Dias de Um Futuro Esquecido de Chris Claremont e John Byrne

Estas histórias, emblemáticas no universo dos super-heróis (pelos autores, pelos personagens, pelo enredo), são excelentes pontos de entrada para conhecer o universo de Logan e, já agora, dos X-Men. Não são histórias do Wolverine mas antes do grupo de super-heróis com o qual é mais associado, escritas e desenhadas pela mais importante equipa de artistas que neles trabalharam, os responsáveis pela fama de que ainda hoje gozam. Paulatinamente, é revelada a personalidade de Wolverine, uma natureza animalesca e violenta temperada por um coração bondoso e doce. Nestas obras, ocorre o momento-chave em que o potencial do personagem é descortinado (desafio-vos a descobri-lo). Ambas as sagas foram publicadas em Portugal pela Levoir/Público.

Eu, Wolverine de Chris Claremont e Frank Miller

A primeira aventura a solo de Wolverine, escrita por um do seus mais importantes criadores e desenhada pelo lendário Frank Miller, o mesmo de 300 e Sin City - inspiração (mas só isso) para o segundo filme do personagem. A mitologia de Wolverine ganha corpo, com a exploração da sua ligação à cultura japonesa e, especificamente, aos samurais - a contradição da violência junto com a honra colam-se na perfeição a Logan. Por outro lado, temos o prazer de ver um dos mais interessantes trabalhos de Frank Miller (cujo passado a escrever e a desenhar ninjas teve alguma coisa a ver com ter sido escolhido para esta história) que, a titulo de curiosidade, é o primeiro a desenhar as garras do personagem como espadas e não tanto como espigões. Esta história existe em português de Portugal, numa versão da editora Devir e outra, mais recente, da colecção Graphic Novels da Salvat.

Arma X de Barry Windsor Smith

Como é que o Wolverine conseguiu as garras e esqueleto inquebráveis? Esta é a história que descreve a experiência inumana à qual Logan é sujeito, a traumatizante dor física e psicológica de que é alvo, enquanto um grupo de cientistas de uma instituição governamental o usam como cobaia num processo de criação do super-soldado. Escrita e desenhada por um artista no seu apogeu, tratou-se de um marco no personagem, ao contar, de forma definitiva, como as garras de metal inquebrável foram criadas mas, acima de tudo, é um extraordinário momento de literatura. Foi também publicada pela Levoir/Público.






Wolverine, Inimigo do Estado de Mark Millar e John Romita JR

 Este é o filme que deveria ser feito sobre Wolverine. Mas como existe em BD, podem lê-lo na melhor forma possível. A premissa é operática, tal como muitas da escrita de Millar: e se um vilão se apoderasse física e mentalmente de Wolverine e o usasse para a sua agenda? O que acontece é um massacre de proporções épicas enquanto a arma viva e indestrutível que é Logan avança como uma força bíblica pelo universo Marvel, cortando, dilacerando, inexoravelmente, de encontro ao seu alvo. Entretenimento no seu melhor publicado em Portugal pela Devir.




Logan de Brian K. Vaughan e Eduardo Risso

Só pelos dois artistas envolvidos já vale a pena ir a correr à vossa livraria e comprar esta edição portuguesa da G.Floy. A sinopse diz "Wolverine viaja até uma misteriosa montanha no Japão, para tentar conseguir fazer as pazes com os fantasmas de um terrível incidente do seu passado quase esquecido, um momento no tempo que o recriou, nas chamas do amor, da morte e da destruição". Mas isto não interessa quase nada porque é escrita por Vaughan e desenhada por Risso. Só por isso já é obrigatória.




A Origem de Paul Jenkins e Andy Kubert

É exactamente o referido no título. Sem confusões ou meias palavras, são revelados os primeiros anos de Wolverine, o seu verdadeiro nome (não é Logan), a infância, a descoberta de que é mutante. O pacote é especialmente embelezado pelas palavras de Jenkins e pelos desenhos de Kubert que, segundo as directivas editoriais da altura (início do século XXI), decidem finalmente revelar um dos segredos mais bem guardados da BD. As revelações são inusitadas e, mais uma vez, contribuíram para o crescendo da mitologia do personagem. Publicada pela Devir e pela G.Floy em Portugal.






A Morte de Wolverine de Charles Soule e Steve McNiven

Sim, aconteceu e (surpresa) ainda não foi revertida. Como é já perfeitamente normal e portanto um cliché na mitologia dos super-heróis, a Marvel tinha que publicar a morte do Wolverine. Aconteceu em 2014, quase desprovido dos seus poderes mutantes, Logan enfrenta os piores vilões e acaba por cair. A história é encomendada (como é óbvio) mas graças ao talento dos artistas envolvidos não é apenas um evento para "marcar calendário". Desde então, surgiram não um mas dois substitutos: uma versão feminina, X-23 (que, aliás, aparece neste novo filme);  uma outra do futuro e mais velha (vejam a próxima sugestão). Até hoje, os fãs continuam à espera do regresso do "one and true" Wolverine, mas a Marvel já fez saber que as novas versões, principalmente a feminina, são para ficar. Ainda não publicado em Portugal.

Velho Logan de Mark Millar e Steve McNiven

E se acabássemos estas sugestões com uma história passada num futuro (alternativo, claro está, porque Wolverine está morto)? Onde o personagem está não só velho, casado e com filhos, como também derrotado, anémico, destituído de vontade de lutar, resignado a uma vida mediana? Neste futuro pós-apocalíptico, onde os vilões do universo Marvel venceram e dividiram o mundo entre si, Wolverine foi ludibriado a perpetrar um dos mais hediondos crimes contra a super-humanidade. Caído em desgraça, um trapo, um fantasma da sua anterior personalidade, esta é a história da lenta recuperação (obviamente). Com inspiração em vários filmes do género de vingança, faroeste e futuros distópicos, este é o Wolverine protagonizado por um Clint Eastwood um pouco mais novo, a percorrer uma paisagem ao estilo Mad Max meets Once Upon a Time In The West. Dizem que este último filme, Logan, inspirou-se na obra. Publicada pela Levoir/Publico.

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