O que vou lendo! Injustice Gods Among Us, Year One, The Complete Collection de Tom Taylor e vários

Ideias simples e novas são as mais difíceis. A frase "já tudo foi inventado" é provável que seja verdadeira - mas tenho dificuldades em acreditar. Desviar-nos para um novo ponto de vista poderá ser o proverbial "ovo de Colombo". Basta inclinar a cabeça, a perspectiva muda e conseguimos algo inovador. Basta abraçarmos a nossa personalidade para vermos algo nunca visto. Alan Moore, o famoso escritor (também) de BD, conseguiu-o na década de 80 e em duas obras consideradas essenciais: Miracleman e Watchmen (ambas publicadas em Portugal pela GFloy e Levoir, respectivamente). Moore importou o "mundo real" para o do super-heróis e transformou-o. Desde então, muitos foram os autores que de alguma forma o copiaram, e outros tantos os que, em oposição, tentaram repor o maravilhamento da fantasia juvenil. Frank Miller, escritor e desenhador americano de Comics, fez algo a uma escala diferente mas que, a par do anterior autor, também significou uma mudança de paradigma na BD dos EUA. Injustice Gods Among Us é um estranho filho das sensibilidades e histórias destes dois gigantes da 9.ª Arte.

Injustice Gods Among Us nasceu de um jogo de computador com o mesmo nome e trata-se de uma reinterpretação pós-apocalíptica do universo dos super-heróis - é a Chris Claremont e a John Byrne que deve-se a primeira iteração destes distopias com o seu X-MenDays of Future Past, já transposto para o cinema. Nestas histórias, que de serem já tantas são parte integrante da mitologia dos super-heróis (ou um cliché, se preferirem), os personagens vivem numa paisagem subjugada a um dos seus inúmeros inimigos (X-Men: Age of Apocalypse, por exemplo), ou são eles próprios os causadores desse futuro distópico (Kingdom Come). Esta obra está integrada na segunda categoria. Neste universo alternativo, e na sequência de um evento catastrófico, o Super-Homem transforma-se num dos piores vilões da História. Constituem-se facções, uma de apoio ao Homem de Aço e outra contra, liderada por Batman - reflexos de Frank Miller e do seu Dark Knight Returns. Esta queda do anjo evolui para uma cruzada do Super-Homem e dos seus aliados para livrar o mundo de todos os conflitos, uma empreitada cheia de boas intenções e um caminho que apenas pode levar à derrocada moral dos envolvidos - pequenas inspirações de Watchmen.

Ao contrário da seminal obra de Alan Moore, Injustice Gods Among Us de Tom Taylor afasta-se (mas não totalmente) da profundidade intelectual e escolhe o espectáculo pirotécnico, o enredo surpreendente e a força das personalidades destes ícones da BD dos EUA. As versões dos personagens nem sempre são facilmente reconhecíveis para os fãs mais radicais (a queda do Super-Homem parece precipitada e a Mulher-Maravilha nada tem a ver com versões mais consensuais) mas não deixa de ser uma interpretação valorosa e, acima de tudo, cativante. Virar a página com sofreguidão para descobrir "o que vem a seguir" é um dos maiores atractivos desta série e do seu primeiro ano, compilado neste único volume. Não deixa de ser uma versão negra do universo DC, onde é difícil conseguir encontrar luz de esperança por detrás de motivações tão despóticas e sombrias. Contudo, os fãs da DC anseiam por este tipo de versões - aliás, para o bem e para o mal (mais para mal, pelo que dizem mas eu não sou um deles), foi desta visão que Zack Snyder partilhou para conceber o seu Batman v Superman. É óbvio que o prazer desta obra muito se deve à familiaridade que o leitor tem com a DC Comics mas, mesmo que tangencialmente, todos temos uma ideia de quem são o Super-Homem e o Batman. Conhecer este dois é ponte mais que suficiente para embrenharem-se na história.

Injustice Gods Among Us pode ser e é uma visão sombria do universo da DC, mas, devido a um enredo com muitas surpresas e a um conhecimento único das personalidades destes personagens, transforma-se numa leitura viciante. 

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