O vício do mês - versão Novembro de 2016



Já são muitos anos a virar frangos. Desde os cinco anos de idade a ler Banda Desenhada em geral e de super-heróis em particular. Começou pelo Homem-Aranha e progrediu para todos os outros. Transformou-se em mais do que um vício, que continua até hoje. Todos os meses desloco-me à minha loja de BD favorita e de lá venho com A Pilha. Alguns dos livros dessa pilha leio com mais prazer do que outros, é verdade, mas leio tudo . A lista em baixo é a deste mês.

Este mês continuamos com algo diferente. As duas maiores editoras de BD dos EUA, DC e Marvel, estão sempre metidas num evento qualquer. É um vício do qual não conseguem escapar. Pode não ser uma guerra, mas pode ser uma crise. Pode não ser um renascimento, mas é algo completamente novo e diferente. Por isso e porque, de facto, a DC está no meio do seu Rebirth e a Marvel metida numa Guerra Civil, decidimos voar sobre estes dois eventos e ver como se saíram. 

O Renascimento da DC


Action Comics #965-966 da DC Comics
Batman #08-09 da DC Comics
Cave Carson has a Cibernetic Eye #01 da DC Comics
Detective Comics #942-943 da DC Comics
Doom Patrol #01-02 da DC Comics
Justice League #06-07 da DC Comics
Shade, the Changing Girl #01 da DC Comics
Superman #08-09 da DC Comics
Trinity #02 da DC Comics
Wonder Woman #08-09 da DC Comics
Wonder Woman 75th anniversary special #01 da DC Comics

Já passaram quatro meses desde que começou o branding DC Rebirth. As vendas têm sido um sucesso. A DC Comics tem superado a Marvel, todos os meses, em unidades vendidas e total de receita. É um feito que não é inaudito mas que, ao longo dos mais de 50 anos de saudável competição, tem acontecido de forma parcimoniosa. Passados esses quatro meses, no que a mim diz respeito, o sucesso é sublinhado e, mais, aplaudido. A DC está de volta (até agora). Esta frase não a digo sem propósito. Quem se recorda da DC da segunda metade da década de 80 , toda a de 90 e a primeira do século XXI, lembra-se de uma editora em que cada canto do seu universo possuía um sabor e cheiro diferentes. A imprint Vertigo, ao início, admitia que as suas histórias passavam-se no universo partilhado mainstream mas procurava linguagens e narrativas mais sobrenaturais, psicadélicas, surreais e alternativas. Existiram, nestas décadas, coisas tão eclécticas como Hitman, Question, Demon, The Spectre, Starman, Major Bummer, Chase, Chronos. A DC experimentava nem sempre com sucesso mas experimentava. E era delicioso. Parece que esta editora está de volta.

Começo com a estreia do mês: a imprint Young Animal (YA) com três títulos a lembrar uma Vertigo em início de carreira. Doom Patrol  de Gerard Way e Nick Derington é um sucesso a todos os níveis. Faz lembrar a versão desta mesma revista por Grant Morrison mas com um pouco menos de surrealismo e com desenhos muito melhores. Os dois primeiros números são de narrativa coerente mas sem perder a pitada de surrealismo que parece ser o caminho que o escritor quer seguir. É umas das minhas BD's favoritas da pilha do mês. Outra vitória da YA é Cave Carson has a Cibernetic Eye. Não só vai ao fundo do baú dos personagens esquecidos e estranhamente deliciosos da DC da década de 60 como o faz com a panache dos tempos modernos e (novamente) com deliciosos desenhos (de Michael Avon Oeming). O argumento sai da parelha Way e Jon Rivera e promete ser daqueles comics a ler logo que se recebe a encomenda do mês. Menos prometedor (mas, mesmo assim, interessante) é Shade, the Chaging Girl, onde revisitamos um conceito e personagem da Vertigo da segunda metade da década de 80. Peca por diálogos demasiadamente truncados e desligados que não facilitam a leitura. Ainda assim, há que dar oportunidade a tão deliciosas incursões pelo diferente. 

No lado mainstream da DC deste mês há que continuar a destacar o trabalho superlativo de Rucka, Sharp e, este mês, da brasileira Bilquis Evely, na sempre eterna Wonder Woman. O número da dupla Rucka/Sharp é especialmente fabuloso, com uma sequência desenhada de forma suave e etérea pelo segundo e com uma interpretação apaixonante de Diana. O trabalho da brasileira no Ano Um, com protagonismo dado à vilã Cheeta, é uma boa promessa para os números que aí vêem, agora que substituirá Nicola Scott como desenhadora principal. Este mês, como bónus para fãs e não só, houve o especial de 75 anos do personagem, com um conjunto desequilibrado de histórias que talvez não valha a pena para os que não são dedicados à Princesa Amazona.

Os títulos Batman e Detective Comics continuam a saga do Cavaleiro das Trevas e dos seus ajudantes, numa das mais interessantes sequências de histórias da memória recente, principalmente no segundo título, o melhor dos dois. Depois de despachar a saga dos Homens-Monstro (num crossover com Nightwing de qualidade acima da média), voltam ambos os títulos à programação normal, com novos desenhadores e renovado entusiasmo. De facto, tenho de reconhecer que é muito difícil não encontrar autores que nada tenham a dizer em relação ao universo do Batman. Mais desequilibrado continua o canto do Super-Homem. De um lado temos Superman de Peter Tomasi (este mês com os desenhos de Doug Manhke), que continua a desenvolver a relação paternal do Homem de Aço com o seu filho de forma quente e entusiasmante. O Action Comics de Jurgens não é maravilhoso mas também não desanima completamente. Como já referi em posts anteriores, vive muito do saudosismo de trabalhos anteriores. Finalmente, a completar os títulos que parecem projectar a DC para um futuro risonho, temos Trinity, que aproveita a projecção derivada do filme Batman V Superman ao reunir num único título a Mulher-Maravilha, o Super-Homem e o Batman. O trabalho de Francis Manapul ainda que não totalmente inspirador é seguro e parece-nos guiar para uma história interessante e divertida. 

A desanimar cada vez mais está a Justice League de Brian Hitch. Decididamente, o desenhador não tem a mesma qualidade como escritor e, todos os meses, a mais poderosa a interessante das equipas de super-heróis da DC é uma oportunidade perdida. Volta Geoff Johns que estavas tão bem e temos tantas saudades. A continuar assim não terei outra escolha que não seja desistir do título. 

A segunda Guerra Civil da Marvel


Avengers #14 da Marvel
Civil War II #06 da Marvel
Champions #01 da Marvel
Dr. Strange #12-13 da Marvel
Ms. Marvel #12 da Marvel
Spider-Man / Deadpool #10 da Marvel
Spider-Woman #12 da Marvel
Ultimates #12 da Marvel

A segunda Guerra Civil continua a assombrar uma parte dos títulos da Marvel mas já com menos incidência (a bem ver, era para já ter terminado, não fossem os atrasos e extensão da mini-série).  O título da editora que se destaca neste mês é, sem duvida, Spider-Woman de Dennis Hopeless. Muito à semelhança do número cinco da mesma revista (ler Vício do mês de Abril) é em momentos de ponte entre mega-eventos e aventuras super-heroísticas que o escritor brilha. Este mês sente-se menos a ausência do desenhador Rodriguez ao ver o trabalho de Veronica Fish, a que parece ser a nova colaboradora de Hopeless. 

A mini-série Civil War II prossegue a passos largos para a conclusão (que muitos já conhecem devido ao referido atraso), continuando com o entretenimento certeiro de Bendis e Marquez mas com um pouco menos de entusiasmo neste mês.  Uma das revistas sistematicamente prejudicada pela ligação a este evento é Avengers. Mark Waid é um dos grandes escritores de super-heróis desde há mais de duas décadas mas esta constante interrupção da progressão natural das suas histórias não tem contribuído para uma run equilibrada. O trabalho deste autor em Champions é um pouco superior mas ainda não brilha com aquele fulgor que quem o lê desde sempre sabe que Waid tem. A força dos protagonistas desta revista, exclusivamente populada pela nova geração de super-heróis da Marvel, é aquilo que mais contribui para uma leitura suficientemente entretida - Kamala Khan é uma das melhores coisas a sair da editora nos últimos anos e aqui, uma vez mais, temos prova disso. Aliás, a presença da heroína em Champions equilibra um mês menos interessante na sua revista homónima, Ms. Marvel. Apesar de termos a apresentação de um novo super-herói muçulmano, esse evento não compensa a ausência de Takeshi Miyazawa nem uma história menos robusta.

Do lado do continuem-assim-e-não-estraga temos Spider-Man/Deadpool e Dr. Strange. Este último está a atravessar uma das melhores fases de sempre do mestre das artes místicas, pelas mãos de Jason Aaron e Chris Bachalo, o que não deixa de vir em boa altura, já que existe uma maior percepção pública do herói graças ao filme que está agora nas salas de cinema. Finalmente, Ultimates. Apesar destes dois últimos números não continuarem de forma satisfatória o trabalho superlativo dos primeiros dez, este ainda aparece quando a história afasta-se do evento Guerra Civil II. Este número prepara caminho para um novo número 1 no próximo mês (volvidos apenas 12 deste - esta mania da Marvel já cansa. Daqui a uns anos ninguém conseguirá acompanhar as muitas iterações de novos números um a cada virar de esquina). Espera-se o regresso à qualidade do costume.

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