O que vou lendo! - We Stand On Guard de Brian K. Vaughan e Steve Skorce

A arte tem, entre várias virtudes, duas que, a meu ver, se destacam: a capacidade de previsão e a capacidade de aviso. A imaginação, misturada com a inteligência, o sentido ético e a moral do artista, conspira para transformar a palavra, a imagem, a mistura das duas, em algo que acrescenta um ou vários alertas ao puro prazer. Uma obra que consegue entretecer entretenimento com consciencialização é algo que surpreende-me sempre. Brian K. Vaughan é um escritor de BD que, ao longo de várias das suas obras, sempre juntou essas duas vertentes de forma impressionante: Saga; Y The Last Man; Ex-Machina. We Stand On Guard é outro exemplo no seu currículo.

Quando o conheci em finais da década de 80, um querido amigo canadiano dizia que era inevitável os EUA invadirem o Canadá. A razão era bastante prosaica: água. O segundo maior país do mundo armazena 20% dos recursos aquíferos de água potável (apenas 7% se considerarmos a renovável). Num futuro onde a água é um bem escasso por causa do seu uso desenfreado e por causa da ameaça de aquecimento global, este recurso estratégico é muitas vezes mais importante que banca, dinheiro ou independências administrativas. Falamos de sobrevivência. Esta é a premissa por detrás de We Stand On Guard: daqui um século os EUA invadem o Canadá por causa de água e um movimento rebelde levanta-se.

We Stand On Guard é isto que referi mas também um gigantesco filme de acção, um western onde os índios são os naturais do EUA e os cowboys são originários das florestas geladas do Canadá. A estrutura narrativa é, aliás e ironicamente, a de muito filme de acção série B ou "cauboiada", mas os maus são, neste caso, os estado-unidenses: os vilões matam um familiar ou amado de um ou mais dos protagonistas e estes decidem vingar-se. Os heróis juntam-se e empreendem uma luta libertadora (ou terrorista, dependendo por que olhos vemos as coisas) até às últimas consequências. É verdade que esta vertente de acção suplanta muitas vezes a mais filosófica e reflectiva, mas trata-se um livro que lê-se de forma rápida (se calhar até demais) e entusiasmante. Não sendo uma obra-prima dá, ainda assim, momentos muito bem passados. Para quando o filme desta BD?

PS - Sabiam que o Super-Homem é canadiano? Querem saber porquê? Leiam  We Stand On Guard.

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