X-Men: Apocalypse de Bryan Singer



Será que há filmes de super-heróis a mais? Este ano foram já o Deadpool, Batman v Superman, Captain America: Civil War, este X-Men: Apocalypse e ainda faltam Suicide Squad e Dr. Strange. Isto apenas para falar da 7.ª Arte, porque na TV são cada vez em maior número as séries baseadas em personagens e livros de BD. Quando comecei, há pouco mais de 35 anos, a ler estes universos, fazia parte de um número restrito de pessoas e aquilo que adorava era conhecido por poucos e relegado ao plano do marginal por outros. Hoje é ubíquo. Existem em todo o lado. Será que "too much of a good thing" irá estragar o prazer? E eis que chega este X-Men: Apocalypse, um perfeito exemplo não só do que falo como também de outro fenómeno que começa a notar-se neste tipo de filmes: a proximidade em relação à BD. Mas, perguntam vocês, e tendo em consideração a minha paixão  pelo tema, não é isso bom?

Este filme fecha uma segunda trilogia de adaptações cinematográficas do universo dos X-Men da Marvel detido pela produtora Fox. O primeiro filme da primeira trilogia, também realizado por Bryan Singer, datado de 2000, foi um dos inauguradores desta vaga de filmes de super-heróis que dura há quase 20 anos. A distância entre aquele e este é abissal, com as histórias a ficarem mais complexas, com mais personagens e, devido ao sucesso financeiro destes filmes, com  muito mais orçamento. O que nem sempre é algo de bom. Os nossos amigos dos EUA são capazes de tudo, do melhor e do pior e, quando vêem-se com dinheiro "sem limites" podem enveredar pelo caminho do "quanto mais, melhor". Pergunto-me se este X-Men: Apocalypse não é um pouco (muito?) disso.

Os arcos de história que envolvem vários dos personagens desta nova trilogia parecem conseguir algum tipo de fecho, principalmente aqueles interpretados pelos actores mais relevantes: Fassbender como Magneto (provavelmente o melhor deste filme); Jennifer Lawrence como Mystique; James McAvoy como Charles Xavier. Estes são a tão necessária âncora emocional neste excesso de mutantes, efeitos especiais e caos. Excesso porque o que não faltam são muitos personagens, novos e velhos, muitas batalhas de pirotecnia e carnaval espectaculares, muitos efeitos especiais estonteantes. Tudo é muito, ao ponto de questionar-me se não será demais. Até que limite do digital podemos ir sem que não nos sentimos a ver um jogo de computador e menos algo "real"? Apesar, ou melhor, por causa da premissa verdadeiramente extravagante que são os super-heróis, é necessário algo humano que agarre-nos ao mundo, geralmente algo ligado às emoções e a uma verdade profunda, caso contrário corremos o risco de perder o norte e afundar neste universos fictícios. Neste filme, apesar de estar plenamente confortável nas referências que desfilavam (era BD pura), perguntava-me se, para o espectador menos habituado, tudo não era excessivo. Talvez não, porque estes espectáculos continuam a fazer muito e mais dinheiro e os estúdios anunciam cada vez mais e mais projectos. 

Parece que não gostei do filme, não é? Nada mais longe da verdade. Adorei, mas eu faço parte do público-alvo perfeito, porque este X-Men: Apocalypse é um fato talhado à minha medida, à medida de quem gosta de BD de super-heróis e lê-a há muitos anos. Existem muitos mutantes, aparecimentos fugazes de vários personagens, enredo tipicamente super-heroístico (o recrutamento dos Quatro Cavaleiros do Apocalypse é BD de super-heróis vintage) e um vilão maior que a vida. Este último, especialmente, é um delicioso exemplo de como nós, da BD, estamos habituados a inimigos extravagantes, incrivelmente maléficos mas cuja densidade dramática e psicológica não vai muito para além de "quero conquistar o mundo porque posso". Não se iludam, o Apocalypse da BD é exactamente assim, mesmo aquele da memorável e muito divertida saga da década de 90, Age of Apocalypse. Finalmente, tenho que destacar o trabalho feito com Jean Grey (a preparar o quarto filme, já anunciado), o Nocturno e, novamente, o Mercúrio (Quicksilver, no original). por outro lado, foi pena personagens como o Anjo, Psylocke e a Tempestade (todos vilões) terem tido pouco tempo para crescerem. É esperar pelo próximo. 

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