Eu próprio já estou enjoado com o que digo: actualmente, a Image é uma das mais dinâmicas editoras de BD em qualquer mercado, mas principalmente no dos EUA, onde imperam, em percentagens bem apreciáveis, os super-heróis. Durante muitos anos, era província de editoras como a DC/Vertigo, Drawn & Quarterly, Fantagraphics, a capacidade de explorar linguagens diferentes das da mitologia dos homens e mulheres de super-poderes. A Image "antiga" apostava muito no mesmo mundo, mas copiando mal. Desde o sucesso "independente" de The Walking Dead e da percepção de que, afinal, poderiam apostar em outras perspectivas, que a Image remodelou a sua - sim, vou dizê-lo - imagem. Assim, ao mesmo tempo que, tragicamente, a DC/Vertigo media o seu caixão com o inacreditável erro da dispensa de Karen Berger, a Image decide seguir o modelo desta editora, levando-o, inclusive, mais além: total liberdade criativa.
Um dos primeiros e maiores sucessos desta nova fórmula foi o Saga de Brian K. Vaughn e Fiona Staples. Qualquer um que tivesse acompanhado o trabalho do primeiro, escritor em títulos da DC/Vertigo, sabia do seu enorme talento. Saga foi e continua a ser uma das mais importantes bandeiras desta nova Image, mas sabíamos que Vaughn não ficar-se-ia por ali. Eis que surge Paper Girls junto com o desenhista Cliff Chiang, este uma das duas partes responsáveis pela brilhante nova interpretação da minha Diana (Mulher-Maravilha, para os mais distraídos). Esta BD segue também uma muito salutar nova "moda" de ter personagens femininos como protagonistas, neste caso quatro adolescentes na década de 80. Quatro jovens distribuidoras de jornais residentes numa vila que é alvo duma invasão de seres de outro tempo. As cores, a história, tudo faz lembrar velhas cassetes VHS com filmes de ficção científica série B ou Z desta mesma década, e que os fãs viam até ao desgaste da fita. Tenho mesmo a certeza ser essa a intenção dos autores. A principio, confesso, a história não estava a conseguir cativar-me, mas a última página do primeiro capítulo, ao estilo dos "cliffhangers" típicos de Vaughn, prende com um gancho delicioso (que, obviamente, não revelo). A partir daí, os autores carregam no acelerador e não parecem querer parar, desenvolvendo personagens reais e tangíveis ao mesmo tempo que avançam um enredo cativante e cheio de sensibilidade pop. Sem dúvida, mais um título a seguir.
O mesmo não vou poder dizer de Beauty de Jeremy Haun e Jason A. Hurley. Infelizmente, o alto e muito interessante conceito por detrás desta BD não foi (ainda) suficiente para agarrar-me, muito por culpa de um argumento que, neste primeiros cinco capítulos, não vai muito para além do banal e previsível. O desenho também não é excepcional, com construções de vinhetas também elas pouco inspiradas e, por vezes, até desajustadas. O traço, apesar de simplista e com pouco virtuosismo, poderia ser suplantado com construções de história mais interessantes, o que não acontece - quando falam-me de que é importante um desenhista ser excepcional para que exista uma boa BD lembro-me sempre do trabalho de Peter Gross, cujo traço ultra-simplista enriqueceu, pela sua superior arte, trabalhos como Unwritten, Lucifer e Books of Magic. Dito isto, fico com particular pena porque (como já disse) o conceito por detrás deste Beauty é ultra-cativante: existe uma nova doença no mundo chamada Beleza. Uma doença de que todos querem padecer. Transmitida sexualmente, quem a contrai fica com o corpo e aspecto de um super-modelo, dono de uma beleza digna de Apolo e Afrodite. Claro que, contudo, a história desta doença não fica-se por aqui. De facto, o conceito é interessantíssimo, moderno e, ao mesmo tempo, intemporal. Mas fica a sensação que em outras mãos poder-se-ia transformar em algo fabuloso. Que não é.
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