Eu sei que ninguém força-me a ter de escrever neste Blog. Contudo, é preciso falar deste novo filme de Joshua Oppenheimer apesar de as palavras de nada valerem para descrever com justiça o novo documentário do realizador. Joshua já tinha falado dos massacres ocorridos na década de 60 na Indonésia no seu anterior Act Of Killing. A realidade dos actos cometidos então e do nível de distanciamento e de não arrependimento dos que os praticaram eram já suficientemente reveladores e fortes. Pensava eu que era difícil esse trabalho de revelação ser continuado. Prova-se por isto que escrevo que vivo num mundo protegido.
Neste novo documentário, o realizador (ou devo antes dizer os realizadores - um é anónimo) escolhem um caminho diferente - e mais corajoso para um dos intervenientes. Acompanhamos o irmão de umas das vítimas reveladas no anterior filme enquanto viaja pela Indonésia a entrevistar, com a desculpa de lhes receitar óculos (sim, a ironia não é discreta), os vários homens que contribuiriam, directa ou indiretamente, para o acto de crueldade que resultou na hedionda morte de um parente que nunca chegou a conhecer. Nasceu depois da morte do irmão e os pais sempre o encararam como uma tábua de sanidade, o único meio que possuíam para sobreviver a uma realidade demasiadamente negra para ser encarada de outra forma. O objectivo destas entrevistas é claro e não pretende ser de outra forma. Quando nos encontramos de caras com uma realidade destas todas a tentativas de contextualização literária caem por terra. Não interessa-nos que a metáfora ou ironia sejam óbvias. Interessa que o mecanismo não nos afaste da verdade. E aqui não nos afasta, antes aproxima-nos de forma mais pungente, brusca e violenta.
Todo um país é culpado das atrocidades cometidas em nome de uma suposta vitória contra o comunismo (existe mesmo um leve "piscar de olhos" ao ocidente). Todos contribuíram, por participação ou omissão (passada e presente), nos actos que resultaram na morte violenta de cerca de um milhão de indonésios. Todos podem estar do lado que recebe um pausado olhar de silêncio (sim, o título refere-se a um literal olhar que acontece amiúde pelo filme). Ninguém está isento de culpa. Inclusive o espectador.
Esta segunda parte do documentário de Joshua Oppenheimer continua a ser um dos mais dramáticos e essenciais filmes/documentários exibidos. Não pode nem deve ser perdido por nada.
Neste novo documentário, o realizador (ou devo antes dizer os realizadores - um é anónimo) escolhem um caminho diferente - e mais corajoso para um dos intervenientes. Acompanhamos o irmão de umas das vítimas reveladas no anterior filme enquanto viaja pela Indonésia a entrevistar, com a desculpa de lhes receitar óculos (sim, a ironia não é discreta), os vários homens que contribuiriam, directa ou indiretamente, para o acto de crueldade que resultou na hedionda morte de um parente que nunca chegou a conhecer. Nasceu depois da morte do irmão e os pais sempre o encararam como uma tábua de sanidade, o único meio que possuíam para sobreviver a uma realidade demasiadamente negra para ser encarada de outra forma. O objectivo destas entrevistas é claro e não pretende ser de outra forma. Quando nos encontramos de caras com uma realidade destas todas a tentativas de contextualização literária caem por terra. Não interessa-nos que a metáfora ou ironia sejam óbvias. Interessa que o mecanismo não nos afaste da verdade. E aqui não nos afasta, antes aproxima-nos de forma mais pungente, brusca e violenta.
Todo um país é culpado das atrocidades cometidas em nome de uma suposta vitória contra o comunismo (existe mesmo um leve "piscar de olhos" ao ocidente). Todos contribuíram, por participação ou omissão (passada e presente), nos actos que resultaram na morte violenta de cerca de um milhão de indonésios. Todos podem estar do lado que recebe um pausado olhar de silêncio (sim, o título refere-se a um literal olhar que acontece amiúde pelo filme). Ninguém está isento de culpa. Inclusive o espectador.
Esta segunda parte do documentário de Joshua Oppenheimer continua a ser um dos mais dramáticos e essenciais filmes/documentários exibidos. Não pode nem deve ser perdido por nada.
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