Secret Wars (2015), número seis, de Jonathan Hickman e Esad Ribic

(este post contem spoilers para os cinco primeiros números da série Secret Wars)

As últimas páginas do primeiro número de Secret Wars oferecem uma derradeira e devastadora cena: a destruição completa dos universos principal e Ultimate da Marvel. No lugar destes aparece um novo mundo, uma manta de retalhos constituída por eras e universos díspares, roubados do defunto multiverso. A esse mundo deu-se o nome de Battleworld. O seu Deus é Victor Von Doom, salvador do multiverso, Regente Supremo e ex-maior vilão dos universos desaparecidos, o Dr. Destino.

Esta saga estava prevista serem oito números mas foi expandida para nove, o que atesta a escala do que Hickman e Ribic querem deixar como herança. Como já o disse em artigos anteriores, a tarefa a que os autores se propõe é complicada: construir uma saga/evento/marco histórico no universo da Marvel que rivalize com a seminal Crise nas Terras Infinitas da DC Comics. O caminho não era fácil mas, até este sexto capítulo, parecem estar no caminho certo. Se no final atingir o mesmo patamar do desenrolar da história até este momento teremos uma das mais interessantes macro-narrativas que tão bem exemplificam o que de melhor a mitologia dos super-heróis tem para nos oferecer: personagens e cenários maiores que a vida; destino da realidade constantemente posto em causa; escala cosmogónica do conflito. 

Ainda assim, Hickman consegue, à boa maneira do "estilo Marvel", alicerçar o âmago da narrativa em personalidades e cisões ideológicas, fornecendo, ao mesmo tempo, uma escala humana e trágica. Isto porque, também como já referi, este é um estudo de um dos mais interessantes personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby, Victor Von Doom, Dr. Destino, o maior inimigo dos primeiros heróis da Marvel, o Quarteto Fantástico. Apesar de Doom ser, há muitos anos, o alvo de muitas histórias, este Secret Wars arrisca-se a ser o mais elevado momento da sua carreira. Hickman entretece todo um amplo conjunto de eventos e análises de modo a criar tensão com entretenimento e profundidade conceptual. Mas não é só de Doom que Secret Wars trata. É também da "família Quarteto Fantástico", dos sobreviventes dos defuntos universos, da sua luta para restaurar a ordem anterior e das intrigas palacianas para tomada do poder de Deus, perpetradas pelos piores seres que nasceram da imaginação dos inúmeros criadores da Marvel ao longo de 50 anos. E Hickman e Ribic controlam todos estes novelos de forma limpa e legível. Neste sexto número em particular, os estratagemas adensam-se e, num momento de puro "geekismo" envolvendo o Pantera Negra e Namor, a narrativa cresce em emoção e escala (os que achavam que isso não era possível não conhecem super-heróis nem o talento de Hickman). Paulatinamente, os elementos congregam-se para o fechar da cortina que espera-se verdadeiramente épico.

Até este momento, a versão de 2015 de Secret Wars é um triunfo e umas das melhores BD's do género deste ano. E, quem sabe, mesmo uma das melhores histórias que li em 2015, ponto final.

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