(AVISO - Raramente faço-o, mas desta vez não quero escapar. Este post tem spoilers para o final da 1.ª Temporada do Flash, Multiversity, Free Comic Book Day de 2015 da DC Comics e Justice League número 40)
Uma das virtudes do universo de super-heróis da DC Comics que sempre me atraiu é o seu sentido de legado. De que a filosofia, inspiração e nome de um determinado herói passavam de geração em geração, desde a 2.ª Guerra Mundial, onde tinham iniciado a sua actividade, até ao presente. Começou quando, na Terra-1, a Terra que apareceu quando a DC faz o seu primeiro reboot em finais da década de 50 (vou passar a chamar-lhe reimaginação), o Flash desse universo, Barry Allen, inspirou-se em revistas de BD da sua infância, onde um outro Flash vivia as suas aventuras, Jay Garrick. Esta meta-homenagem foi particularmente inspirada porque, na "realidade", esse Flash tinha "existido" nas revistas da DC Comics da década de 40. Ora, Barry Allen acaba por conhecer Jay Garrick quando as Terras 1 e 2 se encontram. Ambos os Flashes conseguiram ultrapassar as barreiras dimensionais que separavam os dois universos e assim se descobriu, pela primeira vez, a existência de um esplendoroso multiverso. Abriu-se uma caixa de Pandora, com múltiplas e díspares versões de todos os grandes personagens do universo DC. Caixa que voltou a ser fechada em meados da década de 80, com a famosa Crise nas Terras Infinitas. A editora achou que todas estas versões do mesmo personagem confundiam o leitor, as vendas estavam a diminuir e decidiram destruir todas as Terras em excesso e ficar com apenas uma, onde coabitavam conceitos dos universos que tinham perecido. Nesse novo e único universo, contudo, o sentido de legado apurou-se e disseminou-se, principalmente nas mãos do autor Mark Waid quando trabalhou, sim, no Flash - mas essa é outra história.
Depois de muitas tentativas e ameaças pouco veladas do regresso do multiverso, a DC, recentemente, decidiu assumir que este faz parte da sua História, a meta, a macro e a cosmogónica. Nas série Multiversity e depois em Justice League 40, os autores Grant Morrison e Geoff Johns reescreveram os livros cósmicos da grande história do universo. Todas as crises tinham acontecido. Todos os universos tinham, de facto, existido. Todos tinham, de facto, morrido. Tudo fazia parte de um colossal ciclo de morte e rejuvenescimento que governa o multiverso desde o seu início (re-início?). No centro estão os Novos Deuses de Jack Kirby, o Anti-Monitor e Metron, seres divinos que provocam e assistem a esta re-imaginação, num jogo inacreditavelmente gigantesco. Descobre-se que os personagens que tanto adoramos, as diferentes versões do Super-Homem, Mulher-Maravilha, Batman, Flash, não são mais que joguetes, vítimas destas guerra. A DC recuperou, assim, a minha esperança (pelo menos).
Um dos factos mais curiosos é, a meu ver, e integração de meta-texto nesta reinterpretação do seu multiverso. Em Multiversity, tal como tinha acontecido com Barry Allen e Jay Garrick na década de 50, Morrison incorpora uma BD como alerta do mal que aflige o multiverso nessa série. Em Justice League # 40, Geoff Johns vai um pouco mais além do que Morrison e admite, finalmente, que todas as histórias alguma vez publicadas sempre existiram e que não tinham sido retroactivamente eliminadas na construção de uma tapeçaria que fizesse mais sentido para os leitores fanáticos de organização. Essa organização vai continuar a existir, claro, mas admitindo, ao mesmo tempo, diferentes versões e interpretações dos mesmo personagens. De repente, para mim, a DC recuperou o meu interesse.
Desta forma, a DC admite que tudo de facto aconteceu mas mais: admite que o multiverso é parte do seu legado, do seu conceito (a Marvel também tem um mas bastante diferente). Vejam, por exemplo, a série de TV Flash (uma vez mais ele, a chave do multiverso). No último episódio da primeira temporada, aparece um capacete com asas emergido de um portal de outra dimensão. Os fãs sabem bem do que se trata: é o famoso capacete de Hermes que Jay Garrick da Terra-2 usa. Até na TV a editora assume a existência do multiverso. Esperemos que seja para ficar.
2 comentários:
Bolas páh... depois vais ter de me fazer uma lista de essenciais para eu não perder esta nova mudança. Será sempre uma lista de compilações, ou crossovers de preferência, visto que não estou a seguir as séries dos "principais", excepto Batman. Só tenho seguido WW, Aquaman, Green Lantern e Batwoman (que parei).
;)
LOL, Nuno.
Faço, faço. eheheh...
Até vou fazer um post disso, está descansado.
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