Enquanto olho para o espaço vazio onde tenho de colocar estas palavras, confronto-me com a dificuldade que é articular em frases conexas e não presunçosas o dilema de escrever sobre este filme. Não que o considere ininteligível, que não é. Não que o ache fraco, porque, muito pelo contrário, acho que é o filme de que mais gostei neste ano. É antes porque não sei falar dos sentimentos que passam pelo corpo e alma dos alemães que fizeram este Phoenix. Uma história sobre exorcismo? Expurgação? Punição? Pacificação? Aceitação? Por causa de um período da história que marcou milhões de pessoas. Por causa da Segunda Grande Guerra.
É o segundo filme que vejo que Nina Hoss e o realizador Christian Petzold fazem juntos. Há dois anos, Bárbara foi um dos que mais gostei nesse ano de 2013. Engraçado que ambos abordam dois importantíssimos períodos da história recente da Alemanha. Contudo, o tema deste Phoenix tem uma gravidade que não se compara à anterior colaboração. Uma mulher desfigurada, Hoss, é forçada a reconstruir a sua face, alterando significativamente a sua aparência. Depois de recuperada, enceta na busca do seu desaparecido marido. Encontra-o num bar de nome Phoenix. Apesar de bastante diferente, o marido encontra similaridades entre as duas mulheres e decide usar este estranha coincidência para recuperar dinheiro da herança deixada pela falecida esposa. O jogo de espelhos e de fumo começa. Ela finge ser ela própria para recuperar algo perdido por ela, o amor do seu marido, e algo perdido por ele.
O que parece complicado é articulado por Petzold de forma dramaticamente simples e pungente. Uma narrativa que parece linear, transforma-se num comentário subtil e gigante ao que falei no primeiro parágrafo. Falar mais é desconsiderar o filme e o espectador. Como não quero que vocês, ao verem esta belíssima obra, se sintam influenciados, pouco mais vos quero dizer. Contudo, não quero abandonar-vos à incerteza. Posso vos falar da extraordinária fotografia, de como há muito não via algo tão belo como uma mulher a descascar uma fruta verde. Posso dizer-vos que todos os actores são deliciosamente convincentes nos fantasmas que carregam. E posso uma vez mais dizer-vos que fazem um desserviço a vocês se não o virem. Apressem-se que, infelizmente, não deve durar muito nas salas.
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