Qualquer que seja o
filme, qualquer que seja a respetiva proveniência, seja ele dos EUA, da França,
do Cazaquistão, de Portugal, nenhum pode vingar e perdurar verdadeiramente se a
história não for cativante, se os personagens não forem tridimensionais. Claro
que os atores, o diretor de fotografia, o editor de montagem, etc., todos eles
têm algo a dizer em acordo com o seu talento e o seu ponto de vista. Mais do
que ninguém, é do realizador a última palavra, é dele a assinatura, é dele a
“peça de arte” (isto se os produtores não forem dos que gostam de se meter –
nem me vou perder por essa importante linha de raciocínio). Mas sem uma história
bem arquitetada nenhum edifício narrativo, seja ele Cinema, BD, Prosa, Teatro,
nenhum sustentará o peso do Tempo. Este é um tema que, de uma ou outra forma,
já aqui abordei inúmeras vezes. Tudo para dizer que a grande força deste filme
é exatamente a sua história.
Estamos em Tel Aviv
e um homem, origem árabe, é um proeminente e bem-sucedido médico. Um dia, um
atentado suicida que vitima várias crianças israelitas, ir-lhe-á para sempre
alterar o rumo da vida. As questões levantadas pela pessoa causadora do
atentado são de tal forma transversais que entramos no reino da ambiguidade
ética e moral que caracteriza há várias décadas o conflito israelo-árabe. Dizer
mais acerca do enredo é fazer um desserviço aos leitores deste post. Os mais desavisados podem pensar
tratar-se de apenas mais um filme acerca deste tema mas, alerto-vos, não é. Na
originalidade e surpresa do autor do atentado está uma parte substancial do cerne
do tema, mas não só.
Li algures, e
parafraseio, que o papel da Arte não é responder mas sim fazer as perguntas
certas. Nada poderia estar mais certo. Quando a Arte responde é porque poderá
ser panfletária. Publicidade. Uma das virtudes deste filme reside na ausência
de respostas, não porque se acobarda delas, mas porque reconhece a dificuldade em
as fornecer. Prefere que a narrativa se desenvolva de forma quase jornalística,
documentarista, cada evento levando a outro, todos eles expostos sem
militantismo. Não procurem neste filme respostas, apenas factos. O resto é para
cada um de nós decidir.
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