(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta colecção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)
Grau de acessibilidade: Fácil
Sai Sexta-feira, dia 10 de Janeiro, junto com jornal SOL e custa 8,9€
“Em Elseworlds,
os heróis são tirados dos seus ambientes naturais e colocados em lugares e
épocas estranhas – algumas que de facto existiram, outras que poderão ter
existido e outras ainda que não podem ou poderiam ter existido. O resultado são
histórias que recriam personagens, familiares como o ontem mas frescos como o
amanhã.”
Já tínhamos visitado os mundos imaginários dentro destes mundos imaginários. Primeiro com o Cavaleiro das Trevas e depois com a Liga da Justiça, o clube exclusivo para os melhores do mundo. A Levoir decidiu agora regressar ao original, o primeiro dos primeiros, o filho de Krypton e corporização de todos os lugares-comuns dos super-heróis, isto porque foi ele quem os criou: Super-Homem.
Mark Millar, o escritor deste BD, ainda não era o nome porque mais tarde viria a ser conhecido. Ainda não tinha criado a minissérie Wanted, que seria adaptada ao cinema com Angelina Jolie como cabeça de cartaz, nem tampouco Kick-Ass, também alvo de duas passagens para o grande ecrã. Este Superman: Red Son está longe ainda dos anos de produção independente que se seguiriam e expressa de forma contundente a paixonite aguda que muitos autores deste lado do Atlântico nutrem pelo Homem de Aço. Parece, de facto, uma epidemia. O seu mentor, Grant Morrison, tem-na, e até o uber-intelectual da BD, Alan Moore, tem-na. Provavelmente tem a ver com a originalidade pura do personagem, pelo facto de representar os EUA no seu estado mais idealista, um país que para muitos britânicos é a solidificação de um ideal identificável. Qualquer que seja a razão, Millar exibe neste seu trabalho não só esse amor profundo pelo mais conhecido super-herói do mundo, como também uma das imagens de marca com que viria a ser conhecido como criador: o alto conceito.
Em Red Son, Millar levanta e responde a uma daquelas questões que surgem em discussões geeks como as que se vêm no The Big Bang Theory: e se a nave espacial que carregou Kal-El desde Krypton não aterrasse nos EUA mas antes na URSS? Desta premissa aparentemente simples, Millar transporta-nos para uma análise profunda das bases do mito e da mitologia do Super-Homem, colocando-os sobre o prisma da natureza vs. educação como base para desenvolvimento do ser humano. Ao afastar o personagem dos princípios basilares da educação rural norte-americana, as do honesto dia de trabalho na imensidão das quintas do Kansas, que homem fica? Ser criado sem os auspícios de um casal com os valores morais sólidos da quente democracia americana, dará origem a um ser de visão diferentes? A tundra gélida da união soviética e o ideal stalinista poderão quebrar o forte imperativo genético?
Estas deambulações filosóficas são apenas um dos ingredientes. Millar não se perde apenas por estas e não se afasta de introduzir momentos de entretenimento digno de outros contos de super-heróis, ajudado pelo desenhista Dave Johnson. Uma das mais acessíveis e interessantes BD's a sair nesta coleção. Deliciosamente imperdível.
Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber
tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside
na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles
que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço
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