(Prometo tentar
informar aos menos conhecedores de BD acerca da acessibilidade desta coleção,
ou seja se é fácil ou não ler sem saber muito mais coisas)
Grau de acessibilidade: Difícil
mas…
Sai amanhã, Quinta-feira, dia 3 de Outubro, junto com
Público e custa 8,9€
Quando
o escritor da história publicada nos dois próximos volumes desta coleção
decidiu avançar, o editor-chefe da DC
Comics teve apenas uma exigência: que a palavra Crise aparecesse no título. Uma espécie de passagem de testemunho
da primeira, a das Terras Infinitas
(já publicada nesta coleção), um rótulo com meras intenções mercantilistas e
nada ligadas ao cerne do que Brad Meltzer
quis contar neste seu Identity Crisis. Meltzer queria recordar (como muitos
dos que escrevem BD) os bons momentos de uma juventude passada a ler a revista Justice League of America,
especificamente os números publicados na década de 70 sob a batuta de Gerry Conway e Dick Dillin, os dois mestres que publicaram algumas das mais
memoráveis aventuras protagonizando este importante grupo de super-heróis da DC. De facto, quando se lê este Crise de Identidade tem-se a imagem de
um adolescente Brad deliciado com as
vidas grandiloquentes do Super-Homem,
Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e tantos outros, ao mesmo
tempo que a mente criativa fervilhava com questões que qualquer um colocaria,
mas às quais conseguiu responder 30 anos mais tarde.
A
grande diferença deste Crise de
Identidade em relação a outras sagas de super-heróis é estar estruturada em
volta da clássica pergunta de toda a literatura de crime, ou seja, “quem é que matou?”. A história inicia-se
com um crime hediondo, o assassinato de um amado e conhecido personagem do
panteão da DC. De seguida, despoleta-se uma enorme caça ao homem levada a cabo
pelos vários super-heróis companheiros e amigos da vítima, ao mesmo tempo que,
paulatinamente, são revelados segredos envolvendo não só o Universo DC, mas também
os membros ditos secundários da Liga da
Justiça: Arqueiro Verde; Canário
Negro; Gavião Negro; Mulher-Falcão; Zatanna; entre outros. Estes segredos
reequacionam alguns dos eventos passados nas histórias de Conway e Dillin,
transferindo para um prisma mais adulto, com todas as conotações, de
senso-comum e não só, associadas ao novo ponto de vista. Na altura da
publicação, esta história foi alvo de muitas críticas exatamente por ter
assumido um lado tão negro destas histórias “inocentes” da década de 70, mas o
universo de super-heróis sempre se pautou por estas reinterpretações do
passado, já que estamos a falar de um mundo partilhado e com um historial contínuo
de 70 anos. De modo a preservar a novidade e a frescura, recordações quentes da
juventude têm de ser reavaliadas, transferindo-as para o interesse de um
público mais velho e, espera-se, mais maduro. Nem todas estas reinterpretações
funcionam mas, na minha opinião, a de Crise
de Identidade consegue, não só pela qualidade do escritor (que transfere-se
sem esforço da prosa para a BD – Meltzer
é escritor de romance de crime) mas também pela apropriadíssima escolha de Rags Morales, que fornece toda a
violência, negritude e emotividade necessárias para carregar uma história desta
natureza.
Não
é, novamente, das histórias mais fáceis de acompanhar por aqueles que conhecem
menos do universo DC de super-heróis mas, sobre isso e uma vez mais, chamo a
atenção à nota que coloco sempre no fim destes posts.
O
segundo volume da história sai no próximo dia 10 de Outubro.
Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para
acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na
descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que
não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.
2 comentários:
Este merecia sair todo num só volume nem que fosse um bocadito mais caro,que acaba por ficar se somar os valores dos 2 volumes. :(
Mas a História vale a pena,tenho tpb sc desde que saiu e com extras.
Obrigado pelo comentário.
Eu tenho não só o TPB como tb os comics originais. É uma história de que gosto mesmo muito. Infelizmente traz-me um sabor um pouco amargo na boca, já que recorda-me dos bons tempos da DC que agora está a tornar-se cada vez mais irrelevante na minha coleção mensal.
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