Este filme
veio com vários estigmas. De ter sido recusado por Hollywood por ser considerado, e parafraseio, “demasiado gay”. De,
por causa disso e imagino de muitas outras coisas, o realizador Soderbergh ter feito um discurso
bastante polémico e ter afirmado que este seria o seu último filme. De ser o
primeiro filme “a sério” da conhecida cadeia de TV HBO, famosa por ter exibido algumas das melhores séries de sempre: The Sopranos; The Wire; apenas para citar as minhas favoritas. Mas, no final da
história que, pelos vistos, acabou por ser feliz porque Soderbergh lançou o seu filme, o que interessa realmente é:
trata-se de um filme bom ou capaz de entreter? Eu cá acho que sim.
Para quem
não sabe do enredo desta película trata-se da biografia de um casal. Um é o
conhecido e virtuoso pianista norte-americano Wladziu
Valentino Liberace
e o segundo é o jovem Scott Thorson.
O romance entre os dois passa-se entre finais da década de 70 e início da de
80, um amor que começa enorme, como todos, e acaba em desgraça, como muitos. Seguiu-se
um confronto bastante público que culminou na morte do famoso pianista, vitima
do flagelo da década de 80, a SIDA.
Soderbergh não nos apresenta nem o seu melhor filme nem
tampouco o seu pior. As suas marcas estão lá: os décors milimetricamente estudados; o mise en scéne militar; as cores quentes e, paradoxalmente, frias
também; a banda sonora exemplar e minimalista; o relacionamento entre dois
seres tragicamente apaixonados (lembram-se de Clooney e Lopez no
excelente Out of Sight?). Está tudo
lá e a transposição para “TV” não sofre nem um pouco. Mas são os maravilhosos Michael Douglas e Matt Damon as verdadeiras estrelas do cabaret (se virem o filme
vão concordar com a alusão). Estes dois superlativos atores (com uma perninha
hilária de Rob Lowe) conseguem
carregar um filme inteiro em que o realizador, já de si, teima em estar
omnipresente, mas deixa a extravagancia dos dois personagens retratados brilhar
na pele luminescente de Douglas e Damon,
que nos entregam os melhores desempenhos de suas vidas. É uma pena que Hollywood os tenho recusado, porque o
óscar de melhor ator já estaria entregue a esta parelha (tal como, se o mundo
for justo, o será a Cate Blachett pelo
Blue Jasmine).
O
filme está longe de ser uma obra-prima, mas a personalidade das figuras, a
intensidade do retrato dos dois atores, a realização sui generis de Soderbergh
e, o mais importante, a verdade com que esta relação, homossexual, é
transportada num filme mainstream, arrastam
este Behind Candelabra para lá do simples
biopic “da vida”. E olhem que eu não
sou um grande fã de biopic.
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