Este
agradeço à Joana.
Desde que a editora americana independente Image decidiu abandonar de forma mais ou
menos definitiva a fórmula do universo compartilhado de super-heróis, tão bem
apregoada pela Marvel e DC, que só teve a ganhar. Por outro
lado, abriu as portas a autores para produzirem arte isentos de qualquer
contrato de cedência de direitos, e acabou por revelar-se como uma digna
herdeira da cartilha Vertigo – o que
acaba por ser muito bom, já que é suspeita de muitos fãs de BD que os dias da
antiga Vertigo estão contados, depois
da saída da fundadora Karen Berger.
Chew de John Layman (escritor) e Rob Guillory (desenhista) é um produto
desta reinvenção da Image. Uma obra independente
e autoral onde os criadores escolheram construir um mundo um pouco diferente do
nosso. Pressupõem que a epidemia da gripe das aves foi de facto letal e
extraordinariamente perigosa e, conseguido o seu controle, o mundo nunca mais
foi o mesmo. Para começar, os hábitos alimentares mudaram radicalmente, estando
a carne galinácea liminarmente proibida, o consumo existindo apenas no mercado
negro. Em consequência desta ilicitude foi criada uma entidade policial federal
que procura conter o consumo desta carne, sendo que dela faz parte o herói da
série, Tony Chu. As características
especiais de Chu não se limitam,
contudo, ao facto de ser um agente federal, e ligam-se principalmente ao facto
de ser um de três únicos Cibopatas
que, neste universo ficcional, trata-se um ser humano que, após consumir
qualquer alimento (e nele está incluído carne humana), consegue imediatamente
saber todos os acontecimentos passados do mesmo. O que, obviamente, o torna um
excepcional detective.
Este é o conceito básico da série, mas até
este 6.º volume já nos apercebemos que a escala da acção é mundial e universal.
Existem mensagens extraterrestres escritas a fogo nos céus das principais
cidades do mundo. Existe um assassino em série cibopata com objectivos ocultos mas, claramente, pouco altruístas.
E existem uma panóplia de seres humanos com variadas habilidades: Os Saboscrivner
(com a capacidade para escrever de forma tão detalhada sore alimentos que
possibilita ao leitor saborear a comida); Os Sabopictor (com a capacidade de
pintar quadros que sabem à comida representada); Os Cibovoyant (capaz de ver o
futuro daquilo que come ou trinca); entre outros.
Segundo os autores, com este 6.º volume,
chegamos ao meio da série que, obviamente, caminha para uma conclusão. É
caracterizada pelo humor adulto, negro e irónico, pelos personagens
descontraídos e cool, pela perpétua
atmosfera de mistério, conspiração e intriga, tudo feito com destreza
narrativa, controlando as revelações a conta gotas, ao mesmo tempo que atiça a
imaginação e o paladar dos leitores para continuarem (sim, o trocadilho é
propositado). Isto tudo inserido num universo ligado à alimentação e à comida.
Pensem em Filipa Vá com Deus encontra-se com X-Files.
Um apontamento para os fabulosos desenhos semi
cartoonistas de Rob Guillory, que
ajudam a completar a atmosfera humorística de Chew, uma das mais originais ofertas de BD nos dias de hoje. E finalmente…
esta BD não é para os fraquinhos de estômago ou os facilmente impressionáveis.
Porque apesar da arte cartoonista, está longe de ser facilmente digerível (ai
meu deus... tantos trocadilhos).
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