10– Detachment de Tony Kaye (O Substituto) - ex-aequo
10–
Holy Motors de Léos Carax - ex-aequo
Um dos queridos da crítica neste ano, a início
saí do filme com um amargo de boca. Contudo, esta colecção de sketchs profundamente cinematográficos,
esta parada alegórica e surrealista de momentos do cinema, ganhou consistência,
como um sonho mal recordado, e recuperou-se como um dos meus favoritos do ano. Existem
momentos que dançam a perigosa valsa da beleza e da repulsa, mas sem cair, sem
descompassar. Episódios como o do motion
capture da cópula entre serpentes-demónio ou do Quasímodo e da Bela Eva
Mendes, ficaram-se indelevelmente. E qualquer filme está de bem comigo quando
consegue, sem preconceitos e no meio desta nuvem surreal, aludir ao filme Cars da Pixar.
9 –
Avengers Assemble de Joss Whedon (Vingadores)
Podem achar estranho a listagem deste filme
mas, ainda que reconheça alguma descriminação positiva, não consigo deixar de o
considerar como um dos mais interessantes e divertidos filmes de 2012. O tema
abordado é do meu profundo conhecimento (acompanho estes personagens na BD há
35 anos) mas Joss Whedon conseguiu a
proeza de surpreender e entusiasmar este leitor ávido da 9.ª Arte.
Verdadeiramente, os Vingadores ganharam vida, a transição de papel para
movimento foi suave, sem soluços e taxativamente enternecedora, pelo amor
dedicado, pelo (claríssimo) conhecimento das personalidades que estavam a ser
transpostas. Desculpem o lugar-comum, mas queria eu que todos os filmes de
acção, os chamados tent-pole, fossem
assim, com o coração do lado certo do dinheiro.
8 –
Enter the Void de Gaspar Noé
O sucessor de Irréversible de 2002 demorou a
sair quer da cabeça do realizador argentino Gaspar Noé quer nas salas de cinema portuguesas (este Enter the Void é de 2009), mas ainda que
não tenha conseguido reproduzir-me a inacreditável sensação de ver o primeiro no
Festival do Cinema Francês de 2002,
não deixa de ser um pedaço corajoso de estética cinematográfica. Um filme longo
(161 minutos), ainda mais se nos for estranha a escolha de Noé em filmar
exclusivamente na primeira pessoa, sempre o mesmo personagem, primeiro vivo e
depois morto. Quando uma troca de droga em Tóquio corre mal e o protagonista é
abatido pela polícia, o que se segue é uma viagem geográfica e induzida de
realismo mágico, enquanto acompanhamos o fantasma num voo pelas ruas, prédios e
pessoas da capital japonesa. Nunca a filosofia da reencarnação foi tão explicitamente
retratada. Vejam-no e compreenderão melhor esta minha última frase.
6 - Un
Amour de Jeunesse de Mia Hansen-Love (Um Amor de Juventude) - ex-aequo
Que nome tão banal. Que história tão
corriqueira. Mas a execução? Essa é sublime. Não sei porque uma história tão
simples de um amor que começa jovem para se fazer velho me tocou tanto (algo
arrasta-se na minha mente). Talvez porque é um elogio à mulher e à rendição que
dedicam ao Amor? Porque nos ternos olhos da protagonista já se desenha o fim, nunca
triste mas profundamente realista, por causa dos personagens desenhados. Os
filmes de amor adolescente não podem ser todos assim, e ainda bem que o não
são, mas este, este é transcendente.
6 –
Amour de Michael Haneke (Amor) - ex-aequo
Não consegui resistir a colocar estes dois
filmes, tão díspares, tão o reflexo um do outro, na mesma posição. Incrivelmente
diferentes, pela maturidade dos protagonistas, do realizador e da abordagem, se
fossem vistos em sequência não se perderia em nada (uma double feature de lovexploitation).
Ambos abordam o Amor (sim, com letra grande), o que ele na realidade significa,
o que na realidade obriga, o que na realidade impõe. E, também interessante, um
retrata a Mulher enquanto na ausência do Homem amado e o segundo, este de Haneke, trata do Homem enquanto na
ausência (esta não tanto física mas mental) da Mulher amada. Há um lado
voyeurista e paulatinamente intimista deste retrato que o realizador faz da
entrega e sacrifício do marido ao sofrimento da mulher, numa longa sequência
que explica o que acontece depois do “e viveram felizes para sempre”. Ainda que
se “limite” ao retrato obsessivamente realista duma situação, não deixa de sair
desse seu auto-imposto limite e transcender-se para a universalidade dos
sentimentos e das situações. Um filme de crueza desconcertante mas
arrebatadoramente envolvente.
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