O volume
que se segue na história da vida de Matt
Murdock é, curiosamente, também publicado muitos anos depois das suas
aventuras originais. O primeiro número do Demolidor aparece em Abril de 1964,
com argumento de Stan Lee, um dos
mais importantes criadores da Marvel,
e no lado dos desenhos Bill Everett e
Steve Ditko - este último, junto com Lee e Jack “King“ Kirby, formava o triunvirato de ouro que criou a
editora.
Nos
primeiros seis números da sua revista, o Demolidor não vestia o uniforme
vermelho por que viria a ser conhecido. Antes envergava uma vestimenta amarela
e vermelha e o argumentista Jeph Loeb
e desenhista Tim Sale escolheram o livro
Daredevil: Yellow (2002) para
recontar os eventos destes primeiros tempos de Matt Murdock, imediatamente antes de se assumir como um verdadeiro
demônio urbano (em Portugal esta BD foi publicada pela Devir com o nome Demolidor: Amarelo). Mas o coração desta história
não são os vilões que defronta (ainda que apareçam e são vários), mas antes o
segundo grande amor da vida de Matt
Murdock, Karen Page, a jovem
secretária do escritório de advogados que tem com o melhor amigo, que viria a
ser uma das mais importantes pessoas na vida do protagonista, nem sempre pelas
melhores razões. O livro é estruturado como uma longa carta de amor dedicada à jovem, enquanto Matt explana as
motivações que o impelem a vestir cores garridas e a sair na noite em busca da
mais elementar forma de justiça, aquela feita pelas próprias mãos. É explicada a
morte de seu pai, que funcionou como justificação aos solitários périplos
noturnos pelas ruas de Nova Iorque. É explicado o lento
desabrochar do amor jovem que parece ir durar uma eternidade mas nunca dura. Escrito
como um doloroso pedido de desculpas.
Estes primeiros meses do Demolidor acabam por nos dar um personagem ainda distante
dos tempos negros que viriam mais à frente, enquanto a equipa criativa se
diverte a recontar uma era mais descontraída, relectida no uniforme que dá
nome ao livro, vestes menos negras, mais radiosas, como a juventude tem sempre
de ser.
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