Rapidinhas de BD - KM/H e Legado de Júpiter 2 de Mark Millar, Duncan Fegredo e Frank Quitely - G Floy


A editora portuguesa G Floy, desde que adquiriu os direitos para publicação do catálogo de BD Millarworld, o selo do escritor escocês Mark Millar, tem lançado, de forma regular, trabalhos do autor. Escolha atempada, já que esse mesmo selo foi adquirido pela gigante Netflix, para que, em simbiose, ambos produzam conteúdos e conceitos que possam existir, simultaneamente, em papel e em ecrã de TV. KM/H e o segundo volume de Legado de Júpiter são dois bons exemplos dessa troca.


Millar é conhecido por subverter alguns conceitos clássicos associados à mitologia dos super-heróis. Fê-lo com a sua versão do Batman em formato de vilão, Nemesis. Fê-lo com a sua simbiose Super-Homem e Capitão Marvel (o original, hoje conhecido por Shazam!), Superior. E regressa a essa meta-conceito com estes dois livros. 

KM/H explora o velocista ao estilo do Flash, o homem cuja velocidade é infinitamente superior ao do comum mortal, ao ponto de poder quebrar a barreira do tempo e viajar à vontade pelo mesmo. Ainda que este seu livro, com o excelente linha de Duncan Fegredo, não ofereça uma visão particularmente inovadora, ganha pelo ritmo imposto e pela "velocidade"  da narrativa (desculpem o trocadilho). Como é também apanágio de Millar, parece estarmos a ler um storyboard perfeito para um filme pipoca de Verão. O escritor não perde tempo em exposições, deixando o diálogo e acção falarem mais alto, fornecendo não só uma latitude ampla ao desenhador, como também possibilitando ao leitor ter uma experiência imersiva de consumo rápido - lá está o trocadilho outra vez. Não existe nada de mau com isto, bem pelo contrário, e aqui reside boa parte do segredo de Millar. Se querem uma história divertida, de leitura orgânica e da qual esperam momentos de entretenimento, KM/H é a vossa (e a minha) praia. 

Legado de Júpiter tem, contudo, outro tipo de ambições. Esta é a épica histórica de várias gerações de uma família de super-heróis e das repercussões da sua existência no "mundo real". E, acima de tudo, é uma montra para o trabalho de um dos maiores desenhadores em actividade actualmente, Frank Quitely. Este autor, também escocês, insiste em ser um dos mais interessantes a trabalhar na BD, com composições de páginas que têm tanto de inovadoras como de simples. Os seus enquadramentos são limpos e directos e, quando assim a narrativa o impõe, brutalmente impactantes. Quitely sabe como escolher o cerne emotivo, seja ele violência (que desenha maravilhosamente), seja um beijo ou uma conversa. A história de Millar é um pouco redundante, sendo um misturar de velhos clichés já explorados anteriormente. O conflito entre gerações de Kingdom Come de Mark Waid e Alex Ross. A brutalidade épica de batalhas de super-heróis de Authority de Warren Ellis e Brian Hitch (que Millar, ele próprio, continuou, também, com Quitely). O final é, estranhamente, pouco surpreendente. Ainda assim, à semelhança de KM/H e de outros trabalhos do escritor, acaba por preencher bem os minutos que demoramos a ler.

Estes são dois livros que podem ser um presente perfeito para aquela amiga ou aquele amigo que sempre quiseram experimentar super-heróis, mas que ficam com medo de entrar na tapeçaria intrincada da DC e da Marvel. Experimentem oferecer. 

2 comentários:

Do Vale disse...

Bons exemplos de trabalhos mais recentes do Millar que valem a leitura. Acrescento aí Starlight e The Magic Order. Pena que essa velocidade que ele impõe à narrativa tire o peso de alguns de seus escritos.
E SIM: ótimos gibis para presentear.

SAM disse...

Obrigado pelo comentário.

Sim, são dois bons livros para ler (rapidamente) e para oferecer.

O Starlight tenho em casa para ler e o Magic Order hei de ler quando sair por cá pela GFloy.