Uma BD aqui, outra BD ali, 25 - Universo DC



Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei.  Não são nem melhor nem pior que outras coisas.

Doomsday Clock número 7 de Geoff Johns e Gary Frank,
Batman Damned número 1 de Brian Azzarello e Lee Bermejo e
Heroes in Crisis número 1  de Tom King e Clay Mann

(com alguns spoilers)

É-me difícil ser imparcial. Desde há mais de 30 anos que a DC Comics e as suas personagens são as minhas favoritas da BD. Nesse tempo, existiram altos e baixos. O final da década de 80, princípios da de 90 e algum do início do século XXI foram anos de muitos prazeres. Depois, estes foram diminuindo gradualmente até atingir o ponto mais baixo, sempre com excepções, por volta de 2016. Mas em meados desse ano, surge o selo DC Rebirth, onde a editora inicia um lento plano de recuperação do lustro que muito de nós sabiam existir. Os três títulos dos quais venho falar são belíssimos exemplos deste renascimento.


Doomsday Clock (o qual temos estado a acompanhar) é, ao mesmo tempo, a continuação da importantíssima BD Watchmen e o culminar do plano, iniciado pelo escritor Geoff Johns, para o universo de super-heróis da DC no contexto do já referido DC Rebirth. Entramos, com este sétimo número, na segunda metade da história e o escritor, finalmente, avança com respostas a mistérios que têm assolado os leitores desde há dois anos a esta parte.  Misteriosamente, foram roubados 10 anos à História do Universo DC e podemos começar a descortinar o porquê e o como desse particular evento. Johns tece um enredo forte e complexo que, esperamos, irá levar-nos a um porto satisfatório. Todas as personagens que até agora fizeram parte da narrativa têm a possibilidade de brilhar, ao mesmo tempo que abre-se espaço, finalmente, para os dois principais protagonistas: Dr. Manhattan e Super-Homem. O desenhador Gary Frank continua a entregar o trabalho mais elevado da sua carreira, provando ser um digno sucessor de Dave Gibbons

Batman Damned, desde há uma semana, está envolto em polémica, por representar, explicitamente, os genitais do Homem-Morcego. Fala-se muito por tratar-se de umas das maiores personagens da cultura pop mundial - mas, por exemplo, o Dr. Manhattan volta a mostrar-se, em Doomsday Clock, como veio ao mundo, numa BD sem aviso parental, e ninguém disse rigorosamente nada. Esse faits divers acabou por eclipsar (ou aumentar a visibilidade) a este livro que inaugura a DC Black Label, um selo que pretende mostrar as maiores personagens da DC em situações e abordagens adultas e complexas, dando liberdade criativa aos seus autores. Impressa em formato grande, Azzarelo e Bermejo aproveitam a oportunidade para tecer uma história "alternativa", em que o Batman investiga, junto com personagens ligadas ao sobrenatural, a morte do seu maior inimigo, o Joker.  A arte de Bermejo é fenomenal ainda que a escrita de Azzarello esteja uns furos abaixo ao que nos habituou. Um pouco truncada e cheia de mistérios que a tornam de difícil entendimento. Estamos apenas no início e há que aguardar pela conclusão.  Ainda assim, não deixa de ser um dos melhores exemplos deste esforço de transformação por parte da DC no sentido do amadurecimento das suas abordagens narrativas. 

Heroes in Crisis é uma perfeita simbiose entre este esforço e um apelo mais comercial, tão essencial para as vendas.  Tom King tem-se revelado, neste últimos anos, um dos melhores escritores de BD a trabalhar nos EUA. Ao lado do traço de Clay Mann, inaugura, neste primeiro número, um evento com um nome bastante importante para o historial da DC: uma nova Crise. Depois da emblemática Crise nas Terras Infinitas de 1986 seguiram-se outras, a maior parte de escala cósmica, e uma de cariz mais pessoal. Todas revelaram-se uma profunda modificação do universo fictício da DC, mas esta nova pretende ser uma mescla entre as duas abordagens. O Super-Homem, Mulher-Maravilha e Batman criaram um Santuário para onde os heróis podem se recolher e lidar com stress pós-traumático. Aproveitando-se da sua experiência na CIA e de guerras  em que participou no nosso mundo muito real, King prepara-se para analisar, numa perspectiva dolorosamente realista, as agruras de quem vive rodeado de extrema violência e eventos catastróficos. Ao mesmo tempo, cria o mistério do assassinato de vários heróis que estariam em convalescença nesse Santuário. Uma mistura de "Quem Matou?", consultório de psicólogo e aventura cósmica de super-heróis, que envolve os três maiores heróis da DC e não só. Depois do Carnaval hiperbólico que foi Dark Nights: Metal este Heroes in Crisis parece ser uma limpeza de palato.

A editora DC está activamente a fazer um esforço para amadurecer as abordagens narrativas do seu catálogo. Depois de acabadas estas três, saberemos se conseguiu, mas, pela mesma amostra, está no bom caminho. 

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