MOTELx 2018 - Unsane e Cold Skin



Unsane de Steven Soderbergh

Talento. Parece tão simples, mas é na realidade tão difícil. É preciso tê-lo. Steven Soderbergh havia se zangado com o mundo do cinema e anunciado a sua reforma do mesmo. Refugiou-se na TV e em séries como The Knick, onde dizia possuir maior controlo criativo. E nós acreditamos nele. Contudo, o canto da sereia foi forte demais e eis que regressa ao seu primeiro amor, o da 7.ª Arte, com este maravilhoso Unsane.

Soderbergh não é o primeiro a usar apenas um iPhone para fazer as filmagens de um filme (já tivemos o excelente Tangerine de Sean Baker), mas é antes o reiterar de que não é necessário muito para que se faça uma peça de arte relevante. Basta talento. Daquele de que falei acima e que é tão difícil de conseguir.

Unsane é ilusoriamente simples. Soderbergh sabe que, para fazer um filme, não basta ter a câmara. É necessário saber como e para onde apontá-la, que luz usar, que montagem fazer para que o todo seja coerente. E sabe que necessita de uma boa história e de actores que consigam imprimir credibilidade e personalidade às personagens. Neste seu regresso, consegue tudo isso. Uma mulher é internada, contra a sua vontade, num hospício. Essa mulher é a cativante Claire Foy (conhecida da série de TV The Crown), e que aqui revela uma faceta bem diferente da da Rainha de Inglaterra. Uma faceta paranóica, intensa e de força incontida.

Unsane é a que prova do quanto fazer simples é tão difícil. Uma lição em forma de filme de hora e meia.

Cold Skin de Xavier Gens

Cold Skin é a história de dois homens em exílio auto-imposto numa ilha perdida num oceano nórdico, e da luta contra estranhos monstros perdidos pela evolução. Barricados num farol, lutam pela sobrevivência e, ao mesmo tempo, por muito mais do que isso: pela sanidade mental e pela não perda do compasso moral. Realizado de forma competente e com recursos substanciais, o francês Xavier Gens navega o espectador por momentos relativamente normais para o género, com inversões aqui e ali que permitem preservar a surpresa e o interesse. Nada é particularmente novo, mas funciona e entretém de forma satisfatória. 

A história funciona como uma alegoria para vários momentos da História,  especificamente a colonização e conquista de outros territórios levada a cabo pelo homem europeu branco, desde o Novo Mundo até África - ou, pelo menos, foi assim que o interpretamos. Nesse aspecto, o filme apresenta alguns momentos interessantes e emotivos, que funcionam bem quando os actores entregam-se ao drama que se desenrola ao longo da história. Ray Stevenson, David Oakes e Aura Garrido funcionam bem como o trio de protagonistas, conseguindo manter o interesse num enredo que, não sendo extraordinário, permite bons momentos. 

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