MOTELx 2018 - Hagazussa: A Heathen’s Curse e The Promise


O bom de festivais de cinema é que, sem saber, somos presenteados com obras que não esperávamos marcar-nos tanto. No MOTELx já foram inúmeras, no que a mim diz respeito. Lembro-me, por exemplo, do soberbo It Follows. O mau é que, outras vezes, temos de aguentar até ao final, independentemente de estarmos ou não a gostar (eu sou dos que não consegue deixar um filme a meio). É a esperança (que descobre-se vã) que o filme que estamos a ver irá revelar-se melhor do que foi até aquele momento. E, infelizmente, foi o caso destes dois: Hagazussa: A Heathen’s Curse de Lukas Feigelfeld e The Promise de Sophon Sakdaphisit.


O primeiro desenvolve-se à velocidade de progressão de um glaciar, parco em palavras, em enredo e em acção. Não existe, obviamente, nada de mau com isso, apenas na gestão dos mesmos. Fica a sensação que tudo é uma mão cheia de nada. Acompanhamos, em quatro actos, a história de uma mulher, a principio jovem e acompanhada pela progenitora, e depois sozinha e também ela mãe. Ambas acusadas de bruxaria por outros residentes de um bucólico vale perdido nas montanhas germânicas, os espectadores são testemunha da (muito) lenta revelação de pistas, alusões e sugestões do que realmente está a acontecer. Serão amantes do Diabo? Serão de facto bruxas ou apenas desequilibradas mentalmente, vítimas de abuso? Durante breves momentos, as respostas a estas questões interessam, mas, já perto do final, a narrativa deambula por simbolismos que, depois de duas horas em câmara lenta, tornam-se cansativos. Uma melhor gestão do tempo e do enredo tinha subido o nível de interesse. 

The Promise, por seu lado, é abundante em eventos, em palavras e em acção mas, ainda assim, falha redondamente (ou existe aqui algum distanciamento cultural nosso?). A Tailândia, nos finais de década de 90, é vitima de um crash económico (real) que arrasta inúmeras famílias para a pobreza e para o desespero. Duas amigas ricas, privadas da fortuna familiar, fazem uma promessa: irão suicidar-se em conjunto. Mas existe apenas uma arma e uma delas acobarda-se após o suicídio da primeira e decide não levar a cabo o acto. Vinte anos depois, o fantasma da defunta persegue a sobrevivente e a sua filha de 15 anos (a mesma idade com que morreu). A premissa é interessante, mas o realizador usa-a como se de um melodrama se tratasse. Excessivamente dramático, segue uma linha de abordagem narrativa que se assemelha a uma novela mexicana. Emoções ao rubro, música de piano usada sem parcimónia. Os momentos de terror são, regra geral, redundantes e pouco assustadores. As actrizes gritam e choram muito e o fantasma desloca muitos objectos. Um pouco de contenção teria sido bom.

Algures entre a extrema lentidão de um e o excessivo dramatismo de outro existirá um bom filme.

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