Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Só isso: gostado. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.
Justice League (2018) número 7 de Scott Snyder e Jim Cheung (DC Comics)
Chega ao fim o primeiro grande arco de história do escritor Scott Snyder na Liga da Justiça. Nos desenhos teve a colaboração de Jim Cheung e Jorge Jiménez e, num interlúdio, o argumento de James Tynion IV com Doug Mahnke na arte. E como é que se safou nestes primeiros números?
Primeiro de tudo, fazemos o aviso de sempre quando falamos de alguma BD de super-heróis e que, para esta história, vale a triplicar: leiam-na com espírito aberto, porque isto é pura pornografia super-heroística. Se não são conhecedores da História do Universo DC, poderão sentir-se perdidos, mas isso não é impedimento para a ler. Está cheia de conceitos esotéricos e deambulações macro-cósmicas. As ameaças são analisadas não só do ponto de vista físico, como também filosófico. Contudo, não se esqueçam que tudo isto é puro entretenimento. Não existe a tentativa de conceber uma nova religião, uma nova cosmogonia ou encontrar respostas epistemológicas para o sentido da vida. Aqui entramos para nos divertirmos.
Ler a Liga da Justiça de Snyder é um exercício por vezes difícil. Nem sempre a sua escrita é a mais escorreita. Os diálogos são expositórios em demasia e com uma cadência truncada. Associado a isso, apresentam-se vários conceitos complexos, mesmo para fãs, que poderiam ser colocados de forma mais clara. Jorge Jiménez não tem a forma mais eficiente de partir a história, com layouts complicados e quadradinhos demasiadamente ocupados. Por seu lado, quando Jim Cheung toma a as rédeas da arte, a leitura do trabalho de Snyder fica muito mais fácil. Consegue colocar a mesma quantidade de informação usando um traço mais claro e menos caótico. O capítulo de Tynion/Manhke, que se foca nos vilões, é uma lufada de ar fresco na vertigem imposta por Snyder e ajuda a centrar o âmbito da história.
Este último número redime o que se passou em alguns capítulos anteriores. Não só, como já referimos, a arte de Cheung é francamente superior à de Jimenez (é uma pena que não tenha a velocidade deste), como Snyder consegue colocar um laço satisfatório em alguns dos conceitos mais esotéricos e de difícil apreensão. Suspeitamos que a leitura seguida dos sete capítulos facilitará a compreensão global. Por outro lado, quando o escritor concebe diálogos que entrelaçam exposição e personalidade, a história ganha de forma clara. Quer no primeiro capítulo, quer neste, uma piada recorrente dos vários membros da Liga a gozar com o Batman, reestabelece a conexão com o leitor. Não que seja necessário recorrer apenas a esta forma de escrever, mas é um método que permite-nos respirar depois de tanta "cosmicidade".
Snyder parece um pouco deslumbrado com os brinquedos que tem em mãos e sente o peso de trabalhos passados como o de Grant Morrison - cuja sombra está bem presente (a escala e os conceitos multi-universais são disso pista). Não deixa de ser fortemente divertido ler e submergimos num Universo tão escabroso e maior-que-a-vida como este. Este começo poderia ser melhor, mas o potencial está lá todo. É continuar a ler.
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