Dificilmente uma BD de maior importância histórica sairá em Outubro - bem... talvez também a que comemora os 50 anos da Mafalda. A Banda Desenhada já deu ao mundo personagens intemporais que tornaram-se conhecidos pelo mundo inteiro. Poucos são aqueles que nunca ouviram falar do Astérix, Tintin, Super-Homem ou Batman. No início da década de 60 surgiriam, pela imaginação de uma mão cheia de criadores da editora Marvel, mais uma multitude de outras personagens. Destas destacou-se o famoso Homem-Aranha e o seu alter-ego Peter Parker. O impacto deste personagem é sentido nos dias de hoje, por ter materializado aquela que, anos mais tarde, viria a ser conhecida como a Revolução Marvel. Essencialmente, graças aos talentos de Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko (a santíssima trindade), foi introduzido dinamismo, modernidade e humanidade nos super-heróis, cujo arquétipo ainda se confundia com aquele criado nos finais da década de 30 com o Super-Homem. Estes eram essencialmente forças de fazer o bem, quase divinos e donos de características supra-humanas, quer físicas, quer de carácter. O que estes três artistas fizeram foi desenvolver o super-herói com falhas humanas e não um ideal Apolónio de perfeição.
Na Segunda Grande Guerra estes ideais eram necessários. O mal que se combatia além-fronteiras obrigava a personagens que fortalecessem a moral dos combatentes, seres que resolvessem facilmente aquilo que custava vidas e sangue a conquistar. Na década de 60, na sequência do McCartismo, da era atómica e da guerra fria, os americanos, apesar de ainda munidos de um exuberante optimismo (que só na de 70 seria seriamente abalado), estavam preparados para pés de barro nos seus heróis. Capazes de perceber este zeitgeist e fartos da luz incandescente do Super-Homem e família, Lee, Kirby e Ditko estavam preparados para introduzir no mundo um novo paradigma e novos arquétipos. Surgiriam o Quarteto Fantástico, os primeiros, e seguir-lhe-iam as pegadas o Hulk, Thor, Homem-de-Ferro, Vingadores e aquele que seria o maior deles todos, o Homem-Aranha.
Tudo o que escrevi nos dois parágrafos anteriores cristaliza-se em Peter Parker/Homem-Aranha. Já muitos ouviram falar de que, para este personagem, ser um super-herói não era a vida de rosas que para outros era. Raramente chegava ao fim do dia com uma vitória clara. O termo Vitória de Pirro deveria ser reequacionado. Vitória de Parker (ou Sorte de Parker, como ficou conhecida na BD) é mais apropriado e pós-moderno. Ou eram contas que ficavam por pagar, ou a Tia que o criou que ficava seriamente doente, ou os colegas de escola que o desprezavam. Mesmo que o vilão do dia fosse derrotado, muito dificilmente o seria de forma total - muitas vezes resultava na morte de alguém conhecido, querido ou inocente. Esta transposição da vida real que, muitos anos mais tarde, se consubstanciaria em obras como Watchmen e The Dark Knight Returns, inicia-se com o Homem-Aranha. Este é dos primeiros personagens da BD americana para quem a ficção deixou de ser um refúgio. O realismo começava a entrar pelas fissuras da estátua perfeita que era o escapismo da 9.ª Arte - o termo realismo deve ser lido com algum toque de discernimento.
Claro que ainda não estamos a falar de uma obra realista como as que já mencionei. O Homem-Aranha, bem vistas as coisas, não deixa de ser uma BD de super-heróis da década de 60, com todas as obrigações que a isso acarretam. Os capítulos coleccionados neste primeiro volume cronológico da Epic Collection dedicada ao personagem incluem as primeiras aparições, além do próprio Homem-Aranha, de personagens como a Tia May, Dr. Octopus, Duende Verde, Electro, J. Jonah Jameson, e mais uma quantidade memorável de outros. Se querem saber como são as versões que inspiraram tantas e tantas outras que se seguiram no cinema, TV, etc, só têm de ler este volume para perceber a importância e impacto deste mito tão duradouro e perene.
Esta colecção épica que a Marvel decidiu lançar - não me canso de dizê-lo - constitui um dos meus maiores sonhos tornado realidade. Paulatinamente, a editora irá compilar todo o seu catálogo de BD, estando neste momento a publicar principalmente os volumes da Epic Collection dedicados ao Thor, Homem-de-Ferro, Capitão América, Vingadores, Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha. Para este último já tinham lançado dois volumes mas de histórias das décadas de 80 e 90. Este Great Power é cronologicamente o primeiro e, para completar o trabalho da dupla Lee e Ditko, faltará apenas mais um. Não consigo ser suficientemente enfático para sublinhar o trabalho destes dois autores e a importância e qualidade do que está incluído neste maravilhoso volume. Querem dar uma prenda com substância? Acho que este pode ser o caminho.
Na Segunda Grande Guerra estes ideais eram necessários. O mal que se combatia além-fronteiras obrigava a personagens que fortalecessem a moral dos combatentes, seres que resolvessem facilmente aquilo que custava vidas e sangue a conquistar. Na década de 60, na sequência do McCartismo, da era atómica e da guerra fria, os americanos, apesar de ainda munidos de um exuberante optimismo (que só na de 70 seria seriamente abalado), estavam preparados para pés de barro nos seus heróis. Capazes de perceber este zeitgeist e fartos da luz incandescente do Super-Homem e família, Lee, Kirby e Ditko estavam preparados para introduzir no mundo um novo paradigma e novos arquétipos. Surgiriam o Quarteto Fantástico, os primeiros, e seguir-lhe-iam as pegadas o Hulk, Thor, Homem-de-Ferro, Vingadores e aquele que seria o maior deles todos, o Homem-Aranha.
Tudo o que escrevi nos dois parágrafos anteriores cristaliza-se em Peter Parker/Homem-Aranha. Já muitos ouviram falar de que, para este personagem, ser um super-herói não era a vida de rosas que para outros era. Raramente chegava ao fim do dia com uma vitória clara. O termo Vitória de Pirro deveria ser reequacionado. Vitória de Parker (ou Sorte de Parker, como ficou conhecida na BD) é mais apropriado e pós-moderno. Ou eram contas que ficavam por pagar, ou a Tia que o criou que ficava seriamente doente, ou os colegas de escola que o desprezavam. Mesmo que o vilão do dia fosse derrotado, muito dificilmente o seria de forma total - muitas vezes resultava na morte de alguém conhecido, querido ou inocente. Esta transposição da vida real que, muitos anos mais tarde, se consubstanciaria em obras como Watchmen e The Dark Knight Returns, inicia-se com o Homem-Aranha. Este é dos primeiros personagens da BD americana para quem a ficção deixou de ser um refúgio. O realismo começava a entrar pelas fissuras da estátua perfeita que era o escapismo da 9.ª Arte - o termo realismo deve ser lido com algum toque de discernimento.
Claro que ainda não estamos a falar de uma obra realista como as que já mencionei. O Homem-Aranha, bem vistas as coisas, não deixa de ser uma BD de super-heróis da década de 60, com todas as obrigações que a isso acarretam. Os capítulos coleccionados neste primeiro volume cronológico da Epic Collection dedicada ao personagem incluem as primeiras aparições, além do próprio Homem-Aranha, de personagens como a Tia May, Dr. Octopus, Duende Verde, Electro, J. Jonah Jameson, e mais uma quantidade memorável de outros. Se querem saber como são as versões que inspiraram tantas e tantas outras que se seguiram no cinema, TV, etc, só têm de ler este volume para perceber a importância e impacto deste mito tão duradouro e perene.
Esta colecção épica que a Marvel decidiu lançar - não me canso de dizê-lo - constitui um dos meus maiores sonhos tornado realidade. Paulatinamente, a editora irá compilar todo o seu catálogo de BD, estando neste momento a publicar principalmente os volumes da Epic Collection dedicados ao Thor, Homem-de-Ferro, Capitão América, Vingadores, Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha. Para este último já tinham lançado dois volumes mas de histórias das décadas de 80 e 90. Este Great Power é cronologicamente o primeiro e, para completar o trabalho da dupla Lee e Ditko, faltará apenas mais um. Não consigo ser suficientemente enfático para sublinhar o trabalho destes dois autores e a importância e qualidade do que está incluído neste maravilhoso volume. Querem dar uma prenda com substância? Acho que este pode ser o caminho.
2 comentários:
Muito bom! O Ditko é um dos meus quadrinistas favoritos e a fase dele no Aranha deve caber em uns dois Epics desses.
Vou substituir os meus Essentials!
E parabéns pelo blogue.
Antes de mais nada muito obrigado pelo comentário e por dedicares tempo a ler o Blog.
Depois... esta coleção, a Epic Collection, é, como eu disse, um sonho tornado realidade. Um dia espero ter o catálogo quase toda da Marvel e (rezo) da DC Comics neste fabuloso formato.
A fase do Lee-Ditko é, provavelmente, a melhor do Homem-Aranha. Tudo que os criadores que se seguiram fizeram, inclusive o próprio Lee, a esta devem. Já não falar que fizeram História.
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