Como vos dizer o que quer que seja acerca deste singular livro sem estragar um átomo de surpresa? Já várias vezes vos disse neste blog que, para mim, parte imprescindível do prazer de apreciar qualquer história, independentemente da forma, reside na descoberta. Eu já leio BD há tantos anos que, muitas vezes, apenas sei de um autor ou personagem e imediatamente salto para a leitura sem querer saber muito mais pormenores. Assim foi com este excepcional Sex Criminals. Conhecia o trabalho de Matt Fraction. Conhecia a recente produção da editora Image. Sabia que a probabilidade de isto ser algo bom era elevada. Desta vez acertei - como, aliás, tenho acertado muito no que respeita a esta editora.
Não vos vou, como disse, revelar nada do enredo. Posso, ainda assim, vos revelar que envolve sexo e criminosos. Ah... e acho que não cometo nenhum spoiler se disser que também envolve a passagem do tempo, ou melhor, a ausência de passagem. Curiosos? Deveriam estar! Que é que estes três coisas têm em comum? Como é que Matt Fraction consegue construir o que quer que seja usando estas três palavras?
Há medida que ia lendo apercebi-me que, quando tentasse explicar o conceito base desta BD, seria difícil não considerá-lo, quer para mim quer para quem eu tentasse "vendê-la", como kitsh, argumento de série B ou mesmo Z. Havia um lado de lixo na premissa. Mas lixo que, executado da forma soberba como o é pela dupla de autores, acaba por ser divertido, humano e emocionante. Este é daqueles conceitos que muito dificilmente imaginamos a nascer de outra arte que não a BD, tal o despropósito. E ainda bem, porque prova o quanto ela é suprema. Desligada de qualquer grilhão realista, e assumindo-se como tal, consegue aceitar o ridículo como ele é e, nas mãos de dois artífices superiores, ser algo verdadeiramente bom. Divertido e complexo.
Perceberam que gostei da BD, não? Verdadeiramente, apenas posso continuar a insistir nos rasgados elogios à editora que atrai e arrisca, mesmo com autores provados como Fraction, mas deixa-os brincar à vontade e correr riscos deste nível. O futuro parece brilhante, não só para Sex Criminals, como para a Image.
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