“Não!” é uma decisão muito difícil para mim. Parece que estou a destruir uma realidade. Em adultos, temos de optar entre duas vidas, várias vezes ao dia, e uma delas sai a perder, várias vezes ao dia. É destruída. Deixa de existir. Esta é uma forma de ver as coisas. A outra, a óbvia, é que o “Não!” é também um ato de criação, de algo que passa a existir e que não existia antes. Um universo de opções e de possibilidades. O que parecia impossível e até triste, passa a ser possível. Se alegre, é outra história. Cria a opção por futuros “Nãos!” (não os “Nãos!” do outro “Não!”, claro), e aquele fica resolvido, para o bem e para o mal. Não será necessariamente um alívio, mas é uma decisão.


O pior é a terra de ninguém do “Nim!”, o que, por outras palavras, é a da não decisão, do protelar, do arrastar, do “deixa para outro dia”. Os dias têm o péssimo hábito de transformarem-se em semanas e em anos. E, na melhor das hipóteses, morreste sem avançar um milímetro. Ao invés de teres um longo caminho de errados e de certos, tens um curto de apatia, de inércia e de desperdício. Que adianta ter vivido a vida sem decidir dizer esse “Não!”, que te traria, durante algum tempo, problemas. Se esse “Não!” estava decidido, se tinhas a certeza que era um “Não!”, porque o atrasaste até o fim? O teu fim? 

O “Não!” existe para ser dito. É arrasador e é libertador, como todas as boas palavras o são. Não é garantido que o que ganhas será melhor, superior, pior ou inferior ao que perdes, mas será sempre a palavra certa naquele momento, e para todos os outros momentos que, por causa dele, se lhe seguem. Todos já o dissemos e todos já o ouvimos. Umas vezes custou mais do que em outras, mas, em todas, soubemos que o que viria a seguir era algo novo. E, só por isso, já valeu a pena dizer ou ouvir.

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