Shazam! de David F. Sandberg

Os filmes da DC atravessaram um período conturbado. A interpretação de Zack Snyder do Super-Homem e do confronto entre este e o Batman, seguido da mescla de visões deste mesmo realizador e da de Joss Whedon na Liga da Justiça, trouxeram dissabores devido a uma recepção pouco consensual por parte do público e da crítica. Este que vos escreve gosta do Man of Steel e do Batman v Superman, e tem sentimentos mistos em relação à Liga, similares às visões divergentes que regeram o filme. Antes da Liga ainda houve a Mulher-Maravilha de Patty Jenkins e depois tivemos o Aquaman de James Wan. Estes dois tiveram recepções calorosas, que se reflectiram em sucessos de bilheteira. O último, principalmente, significava uma aproximação completamente diferente ao universo dos supers deste editora, mais solarengo e sem vergonha de assumir-se como entretenimento puro. Em suma, descartava a visão mais negra e discutivelmente madura de Snyder, e apostava na luz e no humor mais aproximados à concorrente, a Marvel

E Shazam!? O que é?

Shazam! é um mergulho mais profundo nessa viragem feita por parte da DC. Tenho de conceder que o material original, a BD, é, por si mesma, mais descontraída, ou não fosse a personagem principal um miúdo que, ao gritar a palavra mágica Shazam, transforma-se no Mortal Mais Poderoso do Mundo. É verdade que aproxima-se mais da matriz apolónia do Super-Homem e menos da gótica do Batman. Verdade que até vai mais longe que o Homem de Aço, pelas razões que já referi. Por isso tudo, a inclinação mais leve da historia está perfeitamente colada à matriz da personagem. A equipa criativa e o realizador David F. Sandberg assumem-na sem vergonhas, construindo um filme de entretenimento domingueiro, no melhor sentido da palavra (frase roubada descaradamente a um amigo). São duas horas bem passadas, sem a angústia existencial veiculada por Snyder, com um super-herói juvenil no comportamento e na disposição.

No que a mim diz respeito, essa fórmula funciona até determinado ponto, a partir do qual podemos cair no kitsh e no campy.  Existem momentos desses no filme, distraindo pelo excesso de simplicidade. Um dos momentos menos felizes acontece já em pleno terceiro acto, quando o motor emocional da personagem principal chega à sua resolução. Essa mesma resolução acaba por ser feita de forma  atabalhoada, apressada e até pueril, preparando o espectador, de forma asséptica, para a conclusão que se avizinha. A batalha final, bem como o twist (que não o é para quem lê a BD), são divertidos, emocionantes e óptimos momentos super-heroísticos, mas o que os alicerçou não funciona plenamente como fundação. Não é insatisfatório, mas também não encheu totalmente as medidas. 

Os actores estão, de uma forma geral, bem, e chamo especial atenção a Mark Strong, que constrói um vilão robusto, e aos vários miúdos, que são uma lufada de ar fresco em toda a narrativa, bem como todo o coração da mesma.

Em suma, um bom filme de entretenimento que poderia ter almejado a outras alturas.

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