The Killing of a Sacred Deer (O Sacrifício de Um Cervo Sagrado) de Yorgos Lanthimos

Depois de The Lobster, que já tinha sido um dos nossos favoritos em 2016, o realizador grego Yorgos Lanthimos regressa com mais este filme, produzido com meios e actores que não do seu país natal. Volta a trabalhar com Colin Farrel, que tem diversificado a sua carreia com filmes menos comerciais, e, desta vez, também com o nome sonante da actriz Nicole Kidman.  O resultado é uma incursão irónica acerca da vida privilegiada de uma família de médicos de sucesso que, apesar de tudo o que de bom fazem, esquecem-se do seu estatuto de excepção.


Como todos os seus filmes anteriores, Lanthimos começa de forma aparentemente normal, até ao momento em que ocorre uma incursão leve do surreal (ou do sobrenatural), transformando a narrativa, que poderia ser linear, numa análise clínica da natureza humana. Mas ao contrário de The Lobster, o realizador aproxima-se, com este The Killing Of A Sacred Deer, do (literalmente) familiar. Esta aproximação incrementa  tensão emocional e aproxima-nos da história. Uma família nuclear bem sucedida e confortável é disruptada por um elemento quase primal e neutral, que a coloca em perigo. Num perigo que todos sentimos de forma visceral.

Lanthimos tem uma forma de contar a história grávida de humor desconcertante. Escolhe a cadência compassada e robótica para o débito dos diálogos das personagens. Escolhe a grande angular e o travelling para libertar a narrativa das amarras da realidade e transportá-la para as fronteiras do terror desconfortável e não natural. Ao mesmo tempo que parece familiar, também não o é. Uma espécie de distopia. E, como todas as distopias relevantes , as melhores são aquelas que nos estão muito próximas. E este filme toca-nos profundamente, mais ainda nestes tempos tão pródigos em falar dos previligiados.

Os actores são, como não poderia deixar de ser, um dos tónicos deste excelente filme, com Farrel, Kidman e o brilhante jovem Barry Keoghan a emprestarem prestações maravilhosas. Sem dúvida, um dos nossos filmes do ano.

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