Quando estreia? The Lobster de Yorgos Lanthimos


Eu sei que estreia comercialmente na próxima Quinta-Feira e que já andou pelos ecrãs do Indie Lisboa deste ano. Mas a revista Sight & Sound, a minha bíblia da 7.ª Arte, há já algum tempo que falava que se desunhava de Yorgos Lanthimos, o realizador, e fiquei curioso. Vi este e Kynodontas. Ficou claro na minha cabeça, depois de ver estes dois exemplos, que o Lanthimos tem um gostinho pelas metáforas e pelas alegorias, fortes e claras (se é que é possível uma metáfora ou uma alegoria serem claras). Qualquer um dos filmes explora um mundo normal mergulhado no absurdo e no surreal. Este Lobster é especialmente delicioso e (para mim) o melhor dos dois. Com certeza que o facto de estar a abarrotar de estrelas internacionais (Colin Farrel, Rachel Weiz, Léa Seydoux) contribui para o atractivo do filme, que o superior orçamento dá espaço de manobra para a imaginação do realizador grego, mas a história é, a meu ver, superior e um misto de entretenimento e intelectual que estou cada vez a gostar mais à medida que os anos acumulam-se.

Num futuro (?), numa terra (?), todos os seres humanos têm de estar casados. Caso separem-se ou o cônjuge morra são internados num hotel/hospital/hospício onde poderão conhecer outros desgraçados solteiros. Terão de escolher um dentre eles num número pré-determinado de dias, caso contrário serão transformados num animal à sua escolha (o protagonista escolhe uma Lagosta, daí o título). Para aumentar o número de dias da "procura" envolvem-se numa espécie de jogo de Paintball onde, por cada solteiro caçado, ganham mais um dia. A história não acaba aqui (nem de longe nem de perto) mas se não ficaram agarrados por esta deliciosa surrealidade então não sei o que mais posso fazer por vocês.

A inverosimilhança do mundo e da situação passa completamente "ao lado", porque os actores e realizador conseguem envolver-nos numa situação que, no fundo dos fundos, não parece assim tão estranha e alienígena. A ditadura do mundo dos casados é-nos familiar, a caça por mais dias não é absurdamente estranha. Não. Tudo parece assustadoramente real. E aí reside a magia e o terror deste mundo. Parece que O Processo de Kafka e o Anjo Exterminador de Buñuel fizeram sexo nos penhascos da costa chuvosa da Escócia. E dele nasceu este Lagosta, um filme cativante e repugnante em iguais medidas. Cativante no mau sentido e repugnante no bom, se é que faço entender-me.   

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