Cold War (Guerra Fria) de Pawel Pawlikowski

Não gosto de ser acusado de pedante, mas acho que, desta vez, será impossível não acontecer. O novo e belo e brilhante filme do realizador de Ida, Pawel Pawlikowski, é o responsável. Larguem os Venom da vida - que ainda não vi. Esqueçam todos os filmes pipoca pelo menos uma vez neste ano, e desloquem-se a uma sala de cinema e vejam este Cold War - nesta altura que vos escrevo, o meu filme favorito de 2018. Aliás, não posso sublinhar com suficiente veemência que não o deixem sair de cartaz e não guardem para o ver num ecrã de TV ou outro qualquer de dimensão inferior. Este filme é uma das razões, no que a mim diz respeito, pela qual o Cinema existe e, portanto, deve ser visto em sala de ecrã de cinema.


Pawel Pawlikowski já tinha exibido um primoroso e belíssimo rigor em desenhar cenas e em passá-las para o ecrã.  Começa pelo controlo do preto e branco, com o qual volta a filmar este Cold War. A iluminação, a gramagem, lembram o melhor do analógico. Cada face, cada expressão, conta a história que tem de ser contada naquele exacto momento do filme. Para isso, o realizador anglo-polaco, escolhe, de forma clínica, a correcta percentagem de luz e de sombras. Cada frame é um quadro (já o dizia um dos melhores videobloggers sobre cinema do YouTube). Os enquadramentos continuam, como em Ida, a ser usados de forma sui generis. As personagens são sempre o mais importante, sem descurar a geografia onde estão inseridas. Existe, mesmo no ecrã 1.37:1, espaço para ambos, num diálogo entre elas que acrescenta à narrativa o melhor das duas. Este é um filme que, confesso, pode até iludir pela sua extrema beleza. A escolha de cada enquadramento, de cada mise-en-scéne, de cada contraste, são uma lição em como fazer Cinema. 

A história é de um amor na Polónia do pós-2.ª Guerra. Um professor de música conhece uma talentosa aluna e ambos apaixonam-se de forma total e dolorosa. Neste tempos conturbados de Guerra Fria, acompanhamos a sua história nos dez anos que se seguem, com altos e baixos, abandonos e reencontros. Joanna Kulig e Tomasz Kot encarnam de forma perfeita a tormenta que é a paixão de ambos, e em como os golpes que a realidade inflige a fere de morte.

Arrisquem e vão ao cinema ver este belíssimo filme. Pode ser que não se arrependam.

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