MOTELx 2018 - Tigers Are Not Afraid, Exorcism of Mary Lamb e Elizabeth Harvest


Fechando o nosso MOTELx de 2018 estão estes três filmes, cada qual testemunha da diversidade das diferentes abordagens neste festival, ainda que díspares em termos de qualidade. 


Vuelven (Tigers Are Not Afraid) de Issa López prossegue numa temática tão querida a alguma da literatura sul-americana, a do Realismo Fantástico, no qual destacam-se nomes como Gabriel Garcia Marquéz, Isabel Allende, etc. O filme segue a vida de várias crianças, vítimas da violência cada vez mais prevalecente nas ruas do México. Essas crianças perderam os pais para um acto, aleatório ou não, de criminalidade, e juntam-se para sobreviver. Uma delas parece partilhar um elo com o mundo do sobrenatural, o que, inevitavelmente, lhe ajudará na busca de justiça. É um filme de forte inclinação social, que denuncia uma realidade actual, mas que, em última instância, perde-se nos meandros da violência e de um certo lugar-comum do enredo. Os jovens actores são uma das mais-valias, com prestações seguras e emotivas, mas a história vagueia pelo óbvio e, não fosse esse forte elo entre o espectador e os protagonistas, acabaria por ser um filme que seria mais do mesmo. Vale pelo carácter documental e de denúncia social.

Exorcism of Mary Lamb de  Yasumasa Konno foi uma estreia mundial no MOTELx e segue a história de um polícia e da investigação a um estranho sanatório no Japão moderno. Vítimas de crimes seriais violentos começam a aparecer nas ruas de uma anónima cidade. A investigação acaba por levar o protagonista ao referido sanatório, onde conhece o director e clínico-chefe do mesmo, bem como uma das jovens internadas. A jovem sofre de esquizofrenia, fruto de um acidente de autocarro do qual foi a única sobrevivente e cujas vítimas viu morrer uma a uma. É um filme cozinhado a lume brando, de longos e demorados planos, numa observação quase contemplativa da acção. Ainda que seja uma abordagem muitas vezes associada às terras nipónicas, o enredo esparso deste filme acaba por funcionar contra o mesmo. A revelação final e surpreendente chega tarde para captar o interesse.  Através de uma gestão demasiadamente parcimoniosa, o realizador acaba por não captar a atenção do espectador. Um filme interessante mas demasiadamente exíguo de conteúdo.

Elizabeth Harvest de Sebastian Gutierrez acompanha a vida de um casal em início de núpcias. Ela jovem e atraente. Ele um homem de meia idade, bem-sucedido, culto e rico. Vão viver para a casa do segundo, onde todas as divisões são de livre acesso, excepto uma. Como é óbvio, essa sala esconde um terrível segredo, que mudará a vida da jovem de forma inequívoca. Ainda que a linha narrativa deste filme siga por caminhos já trilhados, o realizador consegue manter o interesse através de um enredo concentrado e de acção rápida. A revelação central aparece cedo no filme, não deixando o espectador já experiente com sensação de déjà vu. Depois segue com incursões de apelo emocional transversal a várias pessoas até à conclusão. A mise-en-scéne, o décor e a narrativa visual seguem uma linha altamente estilizada que evoca realizadores como Nicolas Winding Refn e mesmo algum Kubrick, ainda que fique longe da originalidade de qualquer um deles. Ainda assim, nesse esforço visual reside algum do mérito do interesse deste curioso filme que, ainda que longe de original, acaba por captar o espectador.

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