Rapidinhas de BD - Dragomante: Fogo do Dragão e Jardim dos Espectros


A BD de autoria portuguesa está a atravessar um bom momento. Ou melhor, está nos primeiros quilómetros de um ressurgimento, apostando em temas e abordagens mais variadas.
É um sinal muito positivo de que não só os editores estão dispostos a apostar nos nossos autores, como os próprios escritores e desenhistas estão mais corajosos em avançar por terrenos menos desbravados. Finalmente, e acima de tudo, os leitores estão a ficar interessados no produto nacional, cujos estilos são, cada vez mais, para um público variado. Nesse contexto, temos estes dois tão belíssimos e tão diferentes exemplares: Dragomante de Filipe Faria na escrita e Manuel Morgado nos desenhos, publicado em conjunto pela GFloy e a Comic Heart; Jardim dos Espectros de Fábio Veras da Escorpião Azul.

Dragomante é uma história de Alta Fantasia ao estilo de fenómenos culturais como Senhor dos Anéis e Guerra dos Tronos, os exemplos mais conhecidos desta vertente literária. Leva o leitor para um mundo imaginário onde os dragões são lugar-comum e instrumentos de guerra. Existe um segmento de guerreiros escolhidos para serem os seus guardiões e cavaleiros (os titulares Dragomantes) e um outro que, ao estilo de escudeiro, vela pela saúde física e mental dos primeiros. Este volume tem a pouco invejável tarefa de concentrar muitas tarefas em poucas páginas: introduzir personagens; apresentar o mundo e fazer um pouco de worldbuiding, tão essencial neste tipo de romance; ter acção; resolver a história sem descurar possíveis e futuras iterações. Faria e Morgado conseguem-no de forma elegante (e palavrosa, o que é sempre uma mais-valia nesta Literatura), escolhendo a via do entretenimento, e que adiciona ao panorama da BD portuguesa algo sempre positivo: escapismo. É francamente refrescante ler algo assim feito com "prata da casa" e só temos de aplaudir a iniciativa e fazer claque para que haja muitos e mais volumes. 

Jardim de Espectros de Fábio Veras revelou-se uma muito interessante BD, principalmente pelo lado das habilidades do autor como desenhista. A qualidade do traço e do breakdown da história revela um artista no controle da arte, lembrando a de Eddie Campbell ou Bill Sienkiewicz, sem ser redundante. Ao ser capaz de criar um ambiente adequado ao tipo de história, neste caso de terror atmosférico, Veras carrega o leitor pelo suspense claustrofóbico esperado deste conto. Também nos diálogos, o autor revela-se no controlo de vozes naturais e orgânicas, que ajudam ao fácil fluir do enredo. Apenas neste último demonstra alguma fraqueza, em que a resolução final fica aquém do que Veras desenvolveu até aí de forma satisfatória. Contudo, não estraga o prazer de ler este novo talento na 9.ª Arte em Portugal que ficamos ansiosos para voltar a ler. 

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