Não sei se é de propósito mas o final do ano costuma ter estreias de filmes que acabam nas listas dos melhores do ano por vários "especialistas". É o caso deste 120 Batimentos por Minuto, uma história em tom documental sobre o movimento LGBT em França no início da década de 90, movimento esse especificamente focado na controle da disseminação da epidemia da SIDA.
Estávamos num momento já avançado da propagação dessa doença e a comunidade civil e política tinha dificuldade em avançar com medidas e comportamentos verdadeiramente mitigantes. Quem sofria literalmente no corpo e na pele as consequências da doença viu-se, então, na necessidade de se organizar em grupos de intervenção que passavam a mensagem de forma veemente e directa, abordando fisicamente (sem violência) os responsáveis pelas políticas, pelos medicamentos, etc. Para isso, informavam-se ao ponto de transformarem-se em especialistas em farmacêutica e biologia, numa tentativa desesperada de se salvarem. Literalmente, tinham a própria vida nas mãos e lutavam contra todos os preconceitos que proliferavam na sociedade civil à época: que este era um problema exclusivo da comunidade LGBT e, portanto, os esforços para a resolução dos problemas era visto como mínimo.
O filme divide-se em dois momentos. O primeiro, filmado e contado de forma semi-documental, aborda este movimento e todas as medidas de intervenção social que usaram para fazer valer a sua perspectiva. O segundo, escolhe um dos casais desse grupo e foca-se na lenta deterioração do corpo de um deles, vitima da doença. Ambos estes "capítulos" são abordados de forma sentida e próxima, a câmara perto dos rostos. Esta tendência de realização foca-se na emoção e na força da intenção dos actores, que fazem todos um excelente trabalho.
Citando o Público "120 Batimentos Por Minuto" foi o filme-sensação da 70.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, onde recebeu o Grande Prémio do Júri. A realização fica a cargo de Robin Campillo ("Les Revenants", "Eastern Boys"), segundo um argumento seu e de Philippe Mangeot, presidente da Act Up francesa nos anos 1990." Act Up é o movimento foco do filme e a história espelha bem o envolvimento próximo de quem produziu este filme. Existe experiência e olhos de quem sofreu de perto.
Um filme verdadeiramente sentido e pungente sobre a epidemia da SIDA e sobre os esforços da comunidade LGBT para alertar a sociedade civil para este problema.
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