Lady Macbeth de William Oldroyd

(para quem estiver interessado, o realizador estará presente hoje, dia 20 de Julho, na Sala 4 do Cinema Monumental em Lisboa, para falar sobre este seu primeiro filme) 

Desenganem-se os que se guiam pelo título. Este filme não é sobre a conhecida esposa do Macbeth da peça de teatro de Shakespeare. Esta mulher, como o realizador o diz, não é movida pela ambição de poder. Esta é uma jovem, em fins do século XIX na Inglaterra rural, forçada a casar-se com um homem vários anos mais velho e a habitar uma casa, quase em forma de clausura, e a ser pouco mais que um pedaço de mobília e uma produtora de prole para prosseguir o nome da família na qual se casou.

Baseado no romance homónimo do russo Nikolai Leskov, este é um filme sobre mulheres. Sobre a revolta que as força a serem mais do que o destino aparentemente lhes reservou. Mas também é sobre uma pessoa, uma personalidade, e o modo espontâneo como reage ao seu mundo e ao seu tempo.  Como se uma mulher moderna se rebelasse contra a prisão onde via-se obrigada a viver. Uma rebelião violenta, assassina, de moralidade questionável. Uma explosão de individualidade, de querer viver, que quebra as barreiras da justiça e do correcto. Uma busca incessante por liberdade, por liderança no próprio destino, mesmo contra o bom senso. Nessa força libertadora encontramos a Lady Macbeth do titulo (a personagem chama-se Katherine). Uma força da natureza, cruel, apática à moral, apenas com um intuito: ser ela própria, viver e não apenas sobreviver.

Esta é a primeira longa-metragem de William Oldroyd, realizador vindo do Teatro. Mas a passagem para a 7.ª Arte é feita sem soluços, como se o palco o tivesse preparado, de forma exemplar, para o Cinema. Existe atenção ao trabalho do actor mas também ao décor, ao mise en scéne. Cada plano é estudado sem o parecer, como se a câmara procurasse, sem pensar, a forma perfeita para ali estar. Não existe banda sonora que, o realizador afirma, serve para que o espectador não tenha refúgio emocional ou indicador de como deve pensar. A interpretação das acções das personagens deve ser decidido pelos códigos de cada um que as vê.  A cor é fria, gelada. Sentimos o vento do norte de Inglaterra, como na Escócia de Macbeth. Uma frieza apropriada à tempestade que é a personalidade de Katherine, um prodígio de trabalho da actriz Florence Pugh, cujos olhos não escondem, desde o primeiro momento, a rebeldia, o desafio e a luxúria de viver.

Um extraordinário filme sobre a rebeldia feminina, sobre a luta contra a clausura.

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