O prazer pop de diversão pode ter as mais diferentes formas. Não vem todo da mesma fonte, quer seja ela autoral, quer seja geográfica. As três Bandas Desenhadas que aqui vos proponho são disso prova. Cada qual do seu canto do globo, cada qual reflexo de uma filosofia bem diferente de "fazer BD". Cada uma capaz de entreter de forma diferente mas, vou ser sincero, não tanto pelo local de onde vem mas mais pela qualidade dos autores envolvidos.
Undertaker tomo 3, L'Ogre de Sutter Camp, continua esta BD de estilo western produzida em França (nunca consegui perceber o fascínio dos franceses por esta mitologia dos EUA), pelas mãos de autores conceituados da sua praça, Xavier Dorison e Ralph Meyer (agora também com o merecido crédito para a colorista, Caroline Delable). Perseguimos as aventuras de Jonas Crow, agente funerário das planícies do Faroeste, que, junto com as suas duas companheiras de origem inglesa e chinesa, tem, nesta missão, a incumbência de perseguir um sofisticado serial killer avant la lettre - com as mais que necessárias ligações ao passado do protagonista. É um entretenimento descontraído (se a caça a um assassino o pode ser, claro), bem desenhado, com personagens interessantes ainda que, aqui e ali, um pouco maniqueístas. O trabalho de Meyer e Delable (desenhista e colorista) destaca-se claramente, sendo, cada um, um degrau acima em qualidade.
Atravessamos o oceano e o vazio do universo e passamos para as palavras e desenhos de Brian K. Vaughan e Fiona Staples, respectivamente, no já incontornável Saga, volume 7. Dizer que esta BD é um vício é ser demasiado brando. A sagacidade, inteligência e imaginação com que os dois autores presenteiam cada novo tomo é desconcertante. Desta vez, Hazel, a narradora desde o primeiro capítulo, filha primogénita, fica ilhada num cometa errante junto com a sua muito disfuncional família. Cheio de sexualidade adulta e, por vezes, desconcertante, de eventos catastróficos, de personagens destrutivos e complexos, tudo marcas e estilos de Saga, a história deste sétimo volume não se afasta (e ainda bem) da "fórmula". Existe espaço para tudo isto e, mais uma vez, para avanços trágicos nas vidas dos muitos protagonistas.
Por último, viajamos no tempo e quase para os antípodas: Japão da década de 70 e para o trabalho do mestre do terror do mangá, Kazuo Umezo. Depois da leitura dos maravilhosos La Maison Aux Insectes ou La Femme Serpent, era urgente passar para uma das suas mais conhecidas obras, este opus de nome Drifting Classroom. O conceito é deliciosamente terror-pop: uma escola é transportada para um mundo desolado e inóspito, onde trevas escondem um horizonte de planícies sem vida - pergunto-me se alguns autores de terror da década de 80 nos EUA não terão lido Umezo. O toque do mangáka serpenteia por um horror sem desculpas, com vítimas e monstros a aparecerem do lado quer das crianças, quer dos adultos. Ninguém é jovem ou simpático demais para fugir à implacável foice do terror de Umezo, e aí reside o fascínio (se é isso que o poderemos chamar) de quem lê as suas histórias. Regredimos ao estado de terror larval, umbilical, de impotência infantil. Sem duvida, um dos grandes.
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