Guardians of the Galaxy vol. 2 de James Gunn (Guardiões da Galáxia vol. 2)


O universo cinematográfico da Marvel já é o mais rentável, em termos nominais, dos franchises do cinema. Quinze filmes para isso contribuíram mas, acima de tudo, uma inédita visão estratégica na 7.ª Arte. Por um lado, trouxeram para o grande ecrã e para a população em geral o conceito de universo partilhado, algo que existe nos super-heróis quase desde que existem. Por outro, ofereceram valores de produção consideráveis e uma visão "artística" uniforme. Um filme da Marvel parece sempre um filme da Marvel, independentemente do realizador que é contratado para o fazer. A iluminação é a mesma. Os planos e enquadramentos são similares. O argumento tem sempre os mesmos tiques. A fórmula, se assim o poderemos chamar, está a funcionar desde o primeiro momento e não há nada de mau com isso. Os resultados de bilheteira são generosos. Mas parece que estamos a assistir ao mesmo filme desde o primeiro Iron Man.

O primeiro volume dos Guardians of the Galaxy era, contudo, um desvio na direcção da diferença (não muito mas alguma coisa). É verdade que o humor estava lá (e muito), os personagens faziam parte do molde Marvel, mas o cenário era inteiramente fora da nossa Terra, espacial e cósmico, cultivando uma estética idiossincrática, sublinhada por uma banda sonora de êxitos musicais das décadas de 70 e 80. Um dos seus personagens, Starlord, era um amante dessa época e esse amor vertia para a "alma" do filme. Isto transformava o GoG em algum diferente dos restantes filmes. Não o chamarei autoral mas o possível dentro desta máquina de fazer divertimento que é a Disney/Marvel.

Guardians of the Galaxy vol. 2  é mais desta visão e isso é bom. As trocas de galhardetes entre personagens são mais e metralhadas a 1000 à hora. Os cenários e a estranheza cósmico-espacial é sumptuosa e cheia de humor. E parece que, finalmente, temos um vilão com interesse e uma motivação suficientemente hiperbólica para estar bem enquadrada dentro da mitologia dos super-heróis. Este filme tem outra interessante característica: a de poder agradar mesmo a quem não liga a este universo literário (muitos desconhecem que os GoG sequer existiam em BD). Essa capacidade transforma o filme numa experiência partilhada e não insular. Certo que os que conhecem estes universos poderão tirar melhor partido das piscadelas de olho, dos cameos, das cinco cenas pós-crédito, mas nada que fira a total e livre capacidade de se sentir entretido.  E é isso que o filme é: extraordinariamente divertido.

Apesar de as personalidades dos personagens serem, muitas vezes, diferentes das da BD, os actores são escolhidos na perfeição (mesmo os que são uma árvores e guaxinim falantes) e transformam-se em sucessos instantâneos. Nebula, que no primeiro filme pouco mais era que um vilão generalista, consegue dimensão e espessura suficientes para justificar a sua aparição. O meu favorito e o que tem os diálogos mais hilariantes é o Drax de Dave Bautista. Ainda que distante da versão da BD, os argumentistas e o actor conseguiram transformar um assassino cósmico violento em algo tão ou mais interessante quanto o da BD (bem, na realidade, mais). E, claro, Rocket Racoon e o (agora) infantil Groot são das grandes descobertas deste título (e a Marvel tem muito que agradecer aos escritores Dan Abnett e Andy Lanning pelo presente que lhes deram - e vocês têm de os ler).

A máquina da Marvel continua a dar filmes que são um sucesso de bilheteira garantido. Este GoG difere um pouco da fórmula da produtora e, por isso, é um dos mais divertidos e aquele que consegue ser uma experiência única e entretida.

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