Vício do mês - versão Outubro de 2016




Já são muitos anos a virar frangos. Desde os cinco anos de idade a ler Banda Desenhada em geral e de super-heróis em particular. Começou pelo Homem-Aranha e progrediu para todos os outros. Transformou-se em mais do que um vício, que continua até hoje. Todos os meses desloco-me à minha loja de BD favorita e de lá venho com A Pilha. Alguns dos livros dessa pilha leio com mais prazer do que outros, é verdade, mas leio tudo . A lista em baixo é a deste mês.

Este mês vamos tentar algo diferente. As duas maiores editoras de BD dos EUA, DC e Marvel, estão sempre metidas num evento qualquer. É um vício do qual não conseguem escapar. Pode não ser uma guerra, mas pode ser uma crise. Pode não ser um renascimento, mas é algo completamente novo e diferente. Por isso e porque, de facto, a DC está no meio do seu Rebirth e a Marvel metida numa Guerra Civil, decidimos voar sobre estes dois eventos e ver como se saíram. 

Action Comics #963-964 da DC Comics
Batman #6-7 da DC Comics
Detective Comics #940-941 da DC Comics
Justice League #4-5 da DC Comics
Superman #6-7 da DC Comics
Trinity #1 da DC Comics
Wonder Woman #6-7 da DC Comics


O Renascimento da DC

Jim Lee e Dan Didio , editores chefe da DC, afirmaram na Comic Con de Nova Iorque deste ano que, na do ano passado, tinham tido uma revelação. Num painel dedicado a todas as coisas DC notaram o desinteresse dos fãs. Muitos abandonavam a apresentação. Claro que sou cínico o suficiente para ter a certeza que o que os alertou não foi nada mais que o insucesso financeiro. Assim, e com o contributo mais do que essencial da mente criativa de Geoff Johns, decidiram devolver à DC o seu sentido de legado e a sua larga história. Daí surgiu Rebirth, um evento mas também um conceito-chapéu, no qual procuram devolver a quintessência dos seus muitos personagens. O sucesso comercial tem sido arrebatador.

Começo, como sempre nestas coisas, pelo melhor: Wonder Woman, a minha Diana, a nossa Mulher-Maravilha. Como afirma o escritor Greg Rucka, finalmente todos os outros começam a perceber porque nós, os fãs, tanto admiramos este personagem ficcional. Muito deve-se ao actual trabalho do autor na Princesa Amazona que, emparelhado com os desenhos de Liam Sharp e Nicola Scott, continua a redefinir a origem de Diana, desenvolvendo, de forma singular, a concebida há trinta anos por George Pérez e Greg Potter (que, claro, agarrava no molde de William Moulton Marston). O meu lado favorito deste renascimento.

Os dois outros membros da Santíssima Trindade, Super-Homem e Batman, não ficam muito atrás da nossa Princesa. O primeiro foi quem mais beneficiou do renascimento já que os seus títulos sofriam de falta de direcção, sendo mesmo dos mais fracos, com autores e editores que pareciam não saber o que fazer com o Homem de Aço. Dos dois títulos, Superman é assumidamente o mais interessante. Uma das características particulares dos personagens DC é que crescem, casam, têm filhos. Para personagens tão icónicos, mudanças deste gabarito são sempre um risco, principalmente porque há que manter os rios de dinheiro em merchandise (a Marvel tenta, há algum tempo, evoluir e manter as características do seu mais icónico personagem, o Homem-Aranha, ao nível de este ser, actualmente e a meu ver, uma pálida imagem do que era). A DC não teve medo de dar um filho ao Super-Homem e ao Batman, ao ponto de, em breve, os irmos ver a partilhar a mesma revista. O trabalho de Tomasi, Gleason e Manke no título homónimo do Super-Homem é um dos mais interessantes deste Rebirth. Já o Action Comics sobrevive graças ao factor nostalgia, não só porque tem capitalizado no regresso de conceitos saudosistas como do trabalho do homem responsável pela morte do Homem de Aço há mais de 20 anos, Dan Jurgens. É um título agradável, sem dúvida, mas, até agora, sem chama.

O Cavaleiro das Trevas, por sua vez, não necessitava de melhorar. O trabalho de Snyder e Cappulo foi dos mais memoráveis no personagem e Tom King não o veio melhorar - até piorou um pouco. Contudo, o nível alcançado pela equipa anterior era tão elevado que qualquer descida era quase inevitável. Assim, a revista Batman continua a ser uma leitura bem entretida mas longe do nível de Snyder. O ponto alto parece estar a vir do trabalho de Tynion e Barrows no Detective Comics. Este mês, para além da qualidade habitual, teve o benefício de engrossar o mistério por detrás das maquinações macro-cósmicas de Rebirth e de continuar o crossover dedicado aos homens monstro. Uma das grandes vitórias da DC.

E depois existe o título, iniciado este mês, que reúne os três maiores ícones da DC num único tecto: Trinity. Manapul prova ser capaz de suportar o peso de lidar com tão importantes personagens, começando de forma serena ao invés de optar por ameaças titânicas. Abre as hostilidades com um singelo jantar organizado pela mulher do Super-Homem, Lois Lane, e decide centrar-se na essência da personalidade e menos no poder dos punhos e nas acrobacias super-heroísticas.

No pólo oposto da Wonder Woman está, desoladamente, a Justice League. A escrita de Hitch ainda está muito aquém da promessa que o seu talento (como desenhador) deixa adivinhar. Resta o interesse de, aparentemente, esta primeira história contribuir para a macro-tapeçaria de Rebirth. Será que já temos o título para o evento que ocorrerá daqui a dois anos? Será o nome Forever Crisis?

Avengers #13 da Marvel
Civil War II #5 da Marvel
Dr. Strange #11 da Marvel
Hercules: Gods of War #3-4 da Marvel
Karnak #5 da Marvel
Ms. Marvel #11 da Marvel
Spiderman #8 da Marvel
Spider-Man / Deadpool #9 da Marvel
Spiderwoman #11 da Marvel
Ultimates #11 da Marvel


Mais outra Guerra Civil na Marvel

Na Marvel a palavra mote é Civil War II. Começou por ser algo que capitalizava no filme do Capitão América: Civil War mas, enquanto este de guerra civil tinha muito pouco, já a da BD assume-se como tal. A mini-série com o mesmo nome é, até ver, uma franca vitória em qualidade - e, como já o disse em posts anteriores, superior à primeira. Este número, apesar de ser uma longa sequência de combate entre os antagonistas, é bem arquitectada por Bendis e Marquez que conseguem olear quer as batalhas primárias quer secundárias.

Das séries que acompanham este evento, continuo a destacar Ms. Marvel e Spiderman. Ambas apresentam franca qualidade e dignificam estes sucessores de outros grandes nomes do panteão dos personagens Marvel. O primeiro, principalmente, tem sido uma revelação todos os meses, firmando o desenvolvimento da personalidade de um dos mais encantadores personagens a sair desta editora nos últimos tempos. Por seu lado, Spiderwoman desanima não só porque perdeu o desenhador mas também porque a escrita e enredo não são interessantes. Hercules: Gods of War fecha de forma pouco satisfatória uma revista que prometia quando foi lançada à menos de um ano. Esperava-se mais do trabalho do escritor Abnett. Finalizando as revistas ligadas a Civil War II temos o Avengers que continua a exibir, por enquanto, uma qualidade desequilibrada, com meses melhores (os desligados do evento) e outros piores (sim, os ligados, como este). Apesar de tudo, a nova Vespa, foco deste número, parece ser, nas mãos do escritor Mark Waid, um personagem a vigiar. 

Das revistas que seguem o seu próprio caminho, destaco Dr. Strange, Karnak e Spiderman/Deadpool. A primeira continua o excelente trabalho do escritor Jason Aaron, que, com uma muito sua aproximação à escrita do mestre das artes místicas, cultiva o interesse num personagem difícil de escrever. A escolha de enredo de diminuir os poderes ao quase-omnipotente Dr. Estranho, apesar de pouco original, graças ao seu talento, acaba por brilhar. Também graças à qualidade da escrita de Warren Ellis, outra revista desequilibrada, Karnak, consegue um número interessante e ao puro estilo do autor ao, finalmente, revelar algumas rupturas no monólito que é a personalidade deste personagem.  Spiderman/Deadpool, nas mãos de Joe Kelly e Ed McGuiness, é puro entretenimento pop.

Acabo no título com o qual começava os meses anteriores: Ultimates. Não, não está mau, nada disso e longe disso. Mas estava à espera de mais, principalmente neste capítulo que conclui parte da história que contavam desde o primeiro número. Acredito que muito deve-se ao facto de Rochafort não ter desenhado a totalidade do capítulo. E também acredito que a história ao ser lida sem interrupções mensais ganhe (ou perca) alguma dimensão. Independentemente disto tudo, estava à espera de mais. Os finais são muitas vezes cruéis quando a expectativa é elevada. 

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