O trailer, se mal usado, é uma faca de dois gumes. Queremos publicitar e entusiasmar o suficiente os potenciais espectadores mas podemos correr o risco de revelar o enredo em demasia, ao ponto de roubar toda a surpresa de um argumento que vive para isso. Apesar de eu amar o Batman v Superman tenho a certeza que um dos últimos trailers revelou mais do que deveria. Ora, quando vi, pela primeira vez, o deste novo filme do francês François Ozon fiquei com a mesma sensação. Apesar de ter ficado interessado também achei que revelavam pontos importantes (diga-se, óbvios) da história. Nada mais longe da verdade. O trailer reorganiza de forma inteligente a cronologia do filme ao ponto de sermos completamente enganados em relação ao mesmo.
O que parece uma deambulação desnecessária acerca de uma acessório publicitário do filme asseguro-vos que não é. Este é um filme de enganos, de vidas não vividas, de verdades que os próprios protagonistas (consciente e inconscientemente) escondem. É também e acima de tudo (para mim) uma história de amor, de como ele derruba fronteiras de toda a espécie até valer apenas por ele mesmo. Sem preconceitos e axiomáticas noções de certo e errado. Quem escolhemos amar é algo que (em última análise) escapa a qualquer imposição, porque se o amor é animal (e ainda achamos que é) ele acontece de forma quase inusitada, incontrolável.
François Ozon continua, de forma segura e até um pouco pop, a ser um dos mais interessantes cineastas francófonos, e este novo filme perdura um momento particularmente feliz do autor, depois de Jeune & Jolie e de Dans La Maison. A sua realização parece querer inspirar-se, de forma quase tangencial, no trabalho do mestre Hitchcock pela mistura interessante de thriller e drama pessoal. Um filme a ver.
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