Não existem contas de 100% no que ao amor diz respeito. Há sempre um número que falha, que falta. Não que não tenhamos sido ensinados do contrário. Os que foram alimentados por uma dieta saudável de filmes da Disney podem atestá-lo. Todas as grandes histórias de amor da literatura envolvem, muitas as vezes, uma epifania em que um e outro do casal amoroso cai redondo de paixão de forma imediata e plena. Não há, na maior partes dos casos mais conhecidos, um lento conhecer. O Romeu era um pinga-amor: troca a Rosalinde por Julieta num piscar de olhos e nem passa um dia para que estejam em juras de amor eterno junto ao altar. Anna Karenina conhece Vronsky num comboio e depressa envolvem-se num escandaloso caso com final trágico - notem que esta história de amor é bem mais complexa que o meu resumo, ele sim trágico.
Somos de tantas e tantas formas doutrinados nesta "plenitude do amor" que achamos (os mais propensos a romantismo, pelo menos) que a "realidade" pode ser assim. Não sou um descrente a tal ponto que não acredite no "amor à primeira vista" nem em beijos roubados perfeitos demais para existirem. Que los hay los hay. Mas para uma maioria os dedos do destino são mais tortuosos, tecem linhas mais longas. Às vezes um encontro fortuito apenas terá consequências uns tempos mais tarde. Às vezes o "amor à primeira vista" é antes um "olha, nunca tinha reparado". Não é tanto arrebatamento mas arrebentamento. A albufeira vai enchendo, a portas têm de se abrir ou há ruptura e, depois, o fluxo de água é continuo e forte. As janelas abrem-se ao meio dia e há mais luz. Demora e rasteja até chegar.
As séries Love de Jude Apatow e Master of None de Aziz Ansari, ambas da Netflix, são desapaixonadas histórias de duas pessoas a apaixonarem-se. De encontrarem-se e afastarem-se. De deixarem de ser idealismo e passarem a ser normalismo. É mais belo assim. Principalmente com escrita assim e actores assim. Valem cada um dos 10 episódios de cada.
(já agora, se a Anna Karenina e o Vronsky têm uma idealizada história de amor, os personagens Levin e Betty do mesmo romance são o maravilhoso contraponto "realista" e uma dos mais belas paixões da Literatura)
As séries Love de Jude Apatow e Master of None de Aziz Ansari, ambas da Netflix, são desapaixonadas histórias de duas pessoas a apaixonarem-se. De encontrarem-se e afastarem-se. De deixarem de ser idealismo e passarem a ser normalismo. É mais belo assim. Principalmente com escrita assim e actores assim. Valem cada um dos 10 episódios de cada.
(já agora, se a Anna Karenina e o Vronsky têm uma idealizada história de amor, os personagens Levin e Betty do mesmo romance são o maravilhoso contraponto "realista" e uma dos mais belas paixões da Literatura)
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