Mesmo os que lêem este blog há apenas uma semana sabem perfeitamente da minha já antiga paixão pela literatura de super-heróis. Gosto da Mitologia e, inclusive, sou fã dos arquétipos mais puros, primordiais. Adoro o Super-Homem, o Batman e (a minha favorita) a Mulher-Maravilha. Gosto do facto que muitos relegam-nos para a pilha dos personagens datados (excepto, claro, o Batman) sem dar oportunidade de os conhecer devidamente. A editora que os publica, a DC Comics, é, provavelmente, a minha favorita deste tipo de BD. Quem me acompanha nestas escritas sabe do amor fervoroso que nutro pela história Crise nas Terras Infinitas que, na minha infância, praticamente me apresentou ao multi-universo desta editora.
A riqueza dos super-heróis reside não só na complicada ópera/novela que são os intricados enredos dos infinitos personagens e universos, muitas vezes juvenis mas tantas outras puro prazer, mas também noutra coisa: para as mentes mais "brilhantes", para os escritores e desenhistas com visão tangencial, esta literatura permite explorações mais pessoais e menos "entretenimento puro". É o caso deste Supreme Blue Rose do fantástico Warren Ellis e da descoberta que é a arte de Tula Lotay. O escritor é já um nome bastante conhecido por quem anda nestas andanças e é um talento fluente em linguagem super-heroística. Não só contribuiu com histórias balizadas pelos arquétipos mais tradicionais como subverteu inúmeras vezes os mesmos, a ponto de os revolucionar (quem não leu Authority e Planetary tem mesmo de o fazer já). Ainda que este Supreme Blue Rose não esteja no campeonato destas duas obras-primas (sim, eu disse-o) não deixa de fazer parte orgulhosa desta nova editora Image que há mais de 20 anos surgiu e que agora é uma das mais interessantes do mundo da BD moderna.
Não deixa de ser curioso que o controverso Rob Liefeld, o criador do personagem-cópia-descarada-do-Super-Homem que é Supreme, volte a convidar um autor de renome para pegar na sua versão do famosíssimo herói da DC. Ellis aproveita a oportunidade de ser ele a produzir a enésima iteração de Supreme (até Alan Moore já o fez) para, meta-textualmente, fazer não só alusão a essa constante reinvenção da "criação" de Liefeld, como à história que acima descrevi, a Crise nas Terras Infinitas. Isto tecido de forma implícita e não explicita, abraçando a idiossincrasia deste tipo de evento onde a realidade é destruída e voltada a ser erigida, e construindo um conto de detectives/jornalista de investigação como se David Lynch agora se dedicasse a super-heróis. É algo deste calibre. E que belo calibre. Liefeld tem entregue os seus afamados personagens da década de 90 a autores com visões muito fortes e com resultados bastante positivos (leiam Prophet e Glory também). Este é mais um.
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