Os anos 90 na banda desenhada americana. Odiados. Amados. Nunca esquecidos. Muitos foram os fãs que resistiram estoicamente a quantidades apreciáveis de más histórias. Muitos foram outros os que abandonaram a BD. Algumas das tendências mais conhecidas desta década foram a do anti-herói, a da queda dos anjos e a da substituição de personagens conhecidos por outros com o mesmo nome e uma atitude muito diferente. Foi nesta década que as costas do Batman foram partidas pelo vilão Bane, obrigando Bruce Wayne a procurar um substituto na pessoa do bem mais violento Jean Paul Valley. Foi nesta década que o Super-Homem morre em combate contra Doomsday, sendo substituído por quatro versões. Foi nesta década que a mão de Aquaman é devorada por piranhas, iniciando um processo de transformação longo que culminaria num homem mais duro e violento. Foi nesta década que Hal Jordan, o Lanterna Verde, enlouquece, assassina a maior parte dos seus companheiros de equipa, transforma-se num déspota cósmico e tenta moldar a realidade à sua imagem - isto ao mesmo tempo que é substituído por um Lanterna Verde mais novo.
Esta semana de Convergence foca exactamente esta época, não no número dois da minissérie principal mas nas dez especiais que saíram em conjunto. E mais: as minisséries especiais centram-se exactamente nas histórias que referi acima, com algumas excepções. O período é da Hora Zero, uma saga que, em 1994, tentou fazer o mesmo que a Crise nas Terras Infinitas tinha feito poucos anos antes: resolver contradições no historial de várias personagens (que tinham sido originadas exactamente por causa da Crise, mas isso é muito complicado de explicar). O vilão foi Hal Jordan, agora uma entidade ensandecida de poder infinito chamada Parallax. Desta saga resultaram algumas modificações retroactivas que a DC Comics achou serem importantes o suficiente para representar um dos marcos na macro-meta-história da editora - os fãs sabem do que falo, os outros... Meu Deus... nem sei por onde começar a explicar. Adiante.
As dez minisséries, de uma forma geral, são, a meu ver, de qualidade variável e inferior às da semana passada. Não existe nenhum capítulo tão bom quanto qualquer um dos anteriores mas ocorrem momentos interessantes: Larry Hama a escrever Batman e o seu substituto é particularmente interessante e apropriado - tendo em consideração o historial deste senhor no Wolverine e G.I. Joe; Tom Mandrake a desenhar o Esquadrão Suicida é sempre bem-vindo - não percebo porque o talento deste senhor não é melhor aproveitado nos dias de hoje; os títulos da Mulher-Gato e Lanterna Verde estão curiosos, ainda que lhes falte algum rasgo de diferença e genialidade, principalmente tendo em consideração o respectivo potencial. Os restantes números oscilam entre o tolerável e o completamente negligenciável. Umas vezes por culpa da arte e outras por culpa do escritor. Não deixa de ser curioso que, na realidade, trata-se de metáfora apropriada à década que acaba por focar.
A minissérie principal melhora marginalmente de qualidade, deixando a explanação para avançar o enredo, ainda que se refugie em lugares comuns da arte de contar histórias neste tipo de eventos, principalmente a do mistério. Os desenhos, apesar de elogiados por outros, a mim não me surtem qualquer tipo de efeito, não sendo muito mais que sequências triviais de acção e movimento, sem catarse e personalidade. Quanto aos heróis, apesar de representarem variações dos arquétipos da editora (Super-Homem, Batman, Flash, Lanterna Verde, etc), mesmo os fãs mais dedicados e que não seguiram outras séries vão se ver a nadar. Convergence segue na sequência directa de um título, Earth 2: World's End, que imagino que muitos não seguiram - e, digo-vos, ainda bem, porque é particularmente fraca. Nada do que acima descrevi far-me-ia confusão se a qualidade da escrita e desenho fosse superior o que, decididamente, não é.
Uma semana mais fraca que a anterior, mas com esperança depositada nas próximas com o regresso das saudosas versões pré-Crise nas Terras Infinitas.
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