O que vou lendo! - Superman Unchained de Scott Snyder e Jim Lee

O Super-Homem é considerado por muitos como um personagem datado e enfadonho, parte de uma visão antiquada do herói: nobre; altruísta; semi-divino. Neste início do século XXI, aparentemente, estas características tornam qualquer pessoa ou personagem desinteressante. Eu não poderia estar mais afastado da visão. Sou dos que considera o personagem um dos mais interessantes de toda a quantidade de super-heróis disponíveis. Não só porque é o original, a base arquetípica sobre a qual todo um género foi erigido, mas também porque a sua mitologia é uma das mais interessantes, inovadoras e únicas na literatura ocidental (leiam este post).

O mais reconhecível dos super-heróis existe há mais de 75 anos. Foram inúmeros os escritores e desenhadores a colocar parte da sua inspiração e talento na construção do mito. Consequentemente, é muito difícil inovar, dizer algo de novo. Scott Snyder (escritor) e Jim Lee (desenhador) conseguem com Superman Unchained o feito de contar algo raramente dito e numa história para a qual não necessitamos de um doutoramento em BD para a assimilar. Conseguem uma história profunda, relevante e divertida  sobre o Super-Homem, uma pérola que ficará nos anais do personagem e na biblioteca essencial de muitos fãs e não só. Este feito é conseguido de forma muito simples. O enredo foca-se de forma sintética no personagem principal e em poucos personagens coadjuvantes: Lois Lane; Sam Lane, pai de Lois; Batman; Mulher-Maravilha; Lex Luthor; Jimmy Olsen. Com estes, Scott Snyder tem o seu trabalho simplificado. Estão de tal forma presentes no imaginário associado ao Homem de Aço que a interacção com o mesmo flui e não requer explicações. Isso deixa espaço para que o escritor explore pormenores que o interessam mais. E são estes que transformam Superman Unchained  em algo diferente.

Scott Snyder escolhe focar dois aspectos importantes da filosofia por detrás do personagem: ser alienígena; possuir poderes quase divinos e escolher não interferir nos destinos da humanidade. Ambos estes pontos de vista já foram várias vezes abordados por diferentes autores mas Snyder consegue descobrir algo que, pelo menos nas palavras escolhidas, estava "esquecido". Ao mesmo tempo, consegue abordar questões antigas relativas ao papel do super-herói nestes universos fictícios - colocando um interessante contra-ponto em relação às palavras de Alan Moore na imortal obra Watchmen. O Super-Homem é um dos mais interessantes personagens da mitologia Americana, e é sempre relevante quando ao mesmo tempo ao autores focam o seu lado de entretenimento (as batalhas, os cenários e situações maiores que a vida) e a filosofia e meta-texto que fazem parte de si. Sem pedantismos e lições.

As obsessões de Snyder estão uma vez mais presentes neste Superman Unchained. Também as encontramos na exploração que faz de Batman, de Swamp Thing e mesmo de American Vampire. Nas histórias do escritor, o passado muitas vezes funciona como motor do enredo. Esconde sempre algo, um segredo, um mistério, algo não revelado no palco da História. Muitas vezes são sociedades secretas que sempre estiveram por detrás dos eventos mais relevantes. Outras vezes são personagens que, secretamente, desempenharam importantes papéis. Existe um Passado que assombra os personagens.

Jim Lee volta a a desenhar o Super-Homem  - já o tinha feito em Para Amanhã junto com Brian Azzarello (publicado pela Levoir em Portugal). Mas, desta vez, Snyder oferece-lhe um palco mas espectacular e menos circunspecto, abrindo-lhe toda uma panóplia de momentos de acção onde o artista se pode exceder.

Um obra importante para os que querem conhecer melhor esse maravilhoso personagem que é o Super-Homem.

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