The Hobbit, The Battle of the Five Armies de Peter Jackson


O terceiro filme da trilogia do Hobbit é (provavelmente) a derradeira incursão do realizador neozelandês Peter Jackson na Terra Média, o mundo imaginário criado pelo escritor inglês J.R.R. Tolkien. Como fã deste universo ficcional desde os meus tempos de adolescência e como adorador da trilogia cinematográfica que adaptou o livro O Senhor dos Anéis, só tenho a dizer: ainda bem que este é o último.

Já em posts anteriores escrevi sobre algumas das características que havia achado menos boas nesta nova trilogia (The Hobbit, the Desolation of Smaug) e, infelizmente, ainda que este tenha sido, talvez, o melhor dos três, está muito, mas mesmo muito longe da magia, espectacularidade e qualidade de O Senhor dos Anéis. Não consigo saber se é cansaço (quase duas décadas de volta da Terra Média é muito), dinheiro a mais (já esclareço), mas The Hobbit quase que sabe a desnecessário. Quase. Não o é totalmente porque existe o dragão Smaug, um dos pontos altos destes filmes, porque existe a batalha contra o Necromante, porque visitamos a Terra Média. Fora isso nada de novo se acrescenta ao que Jackson já tinha dito nos filmes anteriores. De facto, estou plenamente convencido que estes tinham ganho em ser realizados por Guillermo Del Toro, que teve de se afastar devido a problemas de agenda. Um olhar diferente, menos modelado por esforços icónicos anteriores, tinha sido um ponto forte. 

Não que o único problema seja de realização. O argumento é obeso. Enquanto no Senhor dos Anéis estava com vontade que os filmes continuassem durante mais 10 horas, em The Hobbit rezei por duas a três a menos. Um livro de 300 páginas teve 400 minutos de duração em filme. Parece ter existido um imperativo financeiro que, ainda que não criticável, estragou os filmes. Porque para ganhar muito dinheiro, parece que os estúdios, e ao contrário dos filmes anteriores, abriram os cordões à bolsa. A invenção que abundou nos outros foi substituída por mais efeitos especiais, câmaras de ultra-definição, em suma, em construir um jogo de computador em formato de filme.

Uma das forças do Senhor dos Anéis residia em que este, apesar de estarmos conscientemente emersos num mundo de fantasia, no facto de preponderarem os cenários reais, a prostética, ou seja, sólidos reais, possibilitava-nos uma experiência menos afastada. Essa era uma das grandes forças da realização de Jackson. Em The Hobbit tudo isto é inexistente. Não me senti próximo de quase nenhum personagem porque movimentavam-se em situações e cenários impossíveis mesmo neste mundo do impossível. Dá vontade de dizer: quando em dúvida, meus amigos, optem pelo real.

Finalmente, os três filmes que compõem este The Hobbit têm um problema de "tom". Parece que se quer agradar a gregos e troianos, a miúdos e graúdos. Coabitam situações retiradas de um desenho animado da Warner Brothers com outras de guerra e pathos no limiar de Apocalypse Now. Deste modo, o centro emocional do filme espalha-se por todo o lado e torna-se mais frágil. Ainda que o Senhor dos Aneís tenha tido pequenos apontamentos destes, os mesmos não tinham o mesmo peso que em The Hobbit.

Esta trilogia talvez possa marcar um ponto de referência futura. Um onde concluamos que efeitos especiais a mais podem ser decrementais. Não deixa de ser irónico que a nova trilogia da Guerra das Estrelas esteja a ser filmada em película e com, como acho que se diz na gíria, efeitos práticos. Quem sabe assim os administradores do legado de Tolkien possam ser convencidos a ceder o The Silmarillion.

Sem comentários: