Multiversity # 3 de Grant Morrison e Ben Oliver


Antes de começar leiam os posts sobre Multiversity # 1 e Multiversity # 2

Quando se soube que Grant Morrison iria criar o mapa cosmogónico do multiverso da DC Comics, os mais avisados estavam conscientes que da imaginação deste escocês não sairiam ideias simples. Certo seria que apesar de estar a pegar em conceitos com várias décadas de vida não o iria fazer de uma perspectiva confortável (para os leitores, bem visto). Apesar de Morrison ser um fervoroso amante da história de sete décadas da editora, ele iria entretecê-la com a sua imaginação psicadélica e criar um ou mais filhos de alucinação e delírio. Este terceiro número de Multiversity, o mais recente e superior esforço deste autor, não é excepção. Para além disso, e como é da província dos grandes artistas, não se esqueceria do sabor dos tempos em que vive.

Sem estragar muito os deliciosos pormenores deste número três da série, Morrison agarra-se em conceitos e personagens da longa e plural história da DC e cria uma nova tapeçaria. Regressam os filhos de Super-Homem e de Batman, conhecidos dos mais ferrenhos fãs da editora,  produtos quase esquecidos das décadas de 60 e 70. Regressam personagens mais recentes e menos esquecidos, os herdeiros de nomes tão conhecidos como o Lanterna Verde e Arqueiro Verde, herdeiros esses que tiveram a sua época de ouro nos finais da década de 90 e princípios deste primeira do século XXI. Todos colocados numa genial Terra-Eu (earth-me, no original). Nesta terra, os pais dos novos super-heróis, o Super-Homem e Batman originais, conseguiram eliminar todo o mal, todos os vilões. Pouco trabalho sobrou para os seus filhos, que agora vivem sob a égide da indulgência egocêntrica. O mundo à sua volta não comenta mais os feitos maiores que a vida, dos universos que salvam, mas antes as vidas mundanas, dos laços amorosos entre eles, das mega-festas nas quais se perdem. Este é um mundo deprimente na sua familiaridade . 

Esta série depressa se transforma num clássico, numa história que no futuro poder-se-á comentar como um dos pontos altos da arte. Morrison é um mestre da palavra falada, dos conceitos multifacetados, da profundidade estilística. Os mundos que constrói são fortes e incrivelmente intemporais. Denota-se um profundo amor pelo universo dos super-heróis em geral mas muito em particular pelo da DC Comics. Esta BD é um prato completo e satisfatório para todos nós fãs mas não só. Não é de todo necessário um conhecimento enciclopédico do passado da editora para absorver este livro, que pode ser pura e simplesmente apreciado como um comentário acerca destes nossos tempos, recorrendo a conhecidos personagens e arquétipos da cultura pop. Esta é a força da arte de Morrison. Esta é a força dos grandes autores. 

Isto não é leitura essencial, é imprescindível.

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