Interstellar de Christopher Nolan e Cavalo Dinheiro de Pedro Costa

Interstellar de Christopher Nolan

Desde que realizou a sua trilogia para o Batman Nolan deixou de ser o mesmo homem. Ou melhor, continua a ser capaz do melhor que o cinema tem para dar mas com meios e atores que muito dificilmente conseguiria (ainda que o seu Insomnia tivesse Pacino e o falecido Robin Williams). Hoje consegue atrair, para além de habitués como Michael Caine, nomes como McCoughaney, que nos últimos anos tem sido capaz de uma surpreendente reinvenção como ator de "qualidade". Isto tudo para servir as suas excentricidades, as suas idiossincrasias, a sua qualidade como contador de histórias. E é disso que falamos quando vemos Interstellar. Uma história surpreendente a servir mais do que apenas enredo mas também filosofia e reflexão. 

Nolan não perde o dedo de artífice de entretenimento e, ainda que este filme homenageie outros como 2001 de Kubrick (mas, claro, não lhe chega aos pés), não deixa de ser uma mescla brilhante entre cinema refectivo e de diversão. Ao contrário do que esperava pelo que ia lendo e ouvindo este filme não foi uma decepção mas antes uma revelação. Nolan faz parte de uma tendência de realizadores que conseguem misturar o auteur com o entretainer. E ainda bem para o Cinema.



Cavalo Dinheiro de Paulo Costa

De entretainer Pedro Costa, por seu lado, tem muito pouco. Já de auteur tem a sobejar. Cavalo Dinheiro não é um filme fácil. A narrativa é não linear, composta essencialmente por metáforas e alegorias, escolhendo a sugestão ao invés da revelação, ainda que o que é sugerido, para os mais atentos, seja tudo menos subtil e inexpugnável. O que Costa conta é duro, um olhar penetrante sobre o passado e presente de Portugal e do modo como tratamos e tratámos naturais das nossas ex-colónias. Existe uma cena particularmente difícil, em que o protagonista tem um longo diálogo com uma estátua ou soldado de chumbo (na realidade um homem assim pintado). É a coda de um filme extraordinário que não contribui em nada para a sua fácil absorção e onde somos confrontados com a penetrante acusação de um homem violentado. 

Se a história torna o cinema de Paulo Costa um desafio para os menos experimentados num determinado estilo de cinema, já a sua lente, a sua fotografia, elevam o trabalho a um patamar apenas reservado aos melhores. Cada plano, cada luz incidente, é cuidadosamente arquitectada para servir a história e não para se impor à mesma. O chiaroscuro é usado e não abusado. A mão de Costa é segura, certa, firme. É bom saber que Portugal tem senhores destes. 

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